Vamos atingir aonde os traficantes moram em breve, diz presidente americano em meio a crise militar; republicano protege secretário de Defesa, acusado de dar ordem de ‘matar todos’ em ofensiva contra embarcações
SÃO PAULO, SP (CBS NEWS) – O presidente Donald Trump disse nesta terça-feira (2) que qualquer país que envie drogas aos Estados Unidos está sujeito a ataques das Forças Armadas americanas, não apenas a Venezuela. A fala vem em meio à campanha militar dos EUA nas águas da América Latina, ação com o objetivo explícito de combater o tráfico de drogas na região e o implícito de pressionar o ditador Nicolás Maduro a deixar o poder.
“Se eles [traficantes] vierem de certo país, ou de qualquer país, ou se nós acharmos que eles estão construíndo locais de produção de cocaína ou fentanil, como a Colômbia, que faz muita cocaína… e nós gostamos muito disso”, disse Trump, em tom irônico. “De qualquer forma, qualquer um que faça isso e venda no nosso país está sujeito a ataques.”
Em seguida, um repórter pergunta para Trump: “Não necessariamente só a Venezuela?”, ao que o presidente responde: “Não só a Venezuela. A Venezuela tem sido muito ruim para nós, mandaram assassinos para nosso país, esvaziaram suas cadeias no nosso país”, afirmou, em referência ao fluxo migratório de venezuelanos em direção aos EUA.
Antes disso, o republicano disse que pretende ordenar ataques contra traficantes “onde eles moram” muito em breve, aumentando a especulação de que os EUA podem bombardear território Venezuelano diretamente -o equivalente a uma declaração de guerra.
Ao longo da conversa com a imprensa em Washington, Trump buscou ainda proteger seu secretário de Defesa, Pete Hegseth. O chefe do Pentágono está sob intensa pressão depois das revelações de que teria dado a ordem de “matar todos” em um dos ataques no Caribe contra embarcações que os EUA afirmam, sem apresentar provas concretas, se tratarem de barcos carregando drogas.
Uma ordem do tipo seria um crime de guerra, uma vez que o direito internacional não considera legítimos ataques contra combatentes que não representam perigo iminente -a menos que haja uma situação de guerra declarada, o que não é o caso. Para se proteger juridicamente, o governo Trump classificou grupos narcotraficantes da América Latina de terroristas, argumentando que pode agir contra eles da mesma forma que os EUA agem contra grupos radicais no Oriente Médio.
Hegseth disse não se lembrar de ter visto sobreviventes no incidente em questão, em setembro, contrariando reportagem do jornal The Washington Post de que houve um segundo bombardeio com o objetivo de matar todos os ocupantes do barco. O secretário afirmou ter dado a ordem de eliminar os supostos traficantes, mas deixado o resto da operação a cargo de almirantes da Marinha.
Ao mesmo tempo, o chefe do Pentágono defendeu “todas as decisões tomadas” por comandantes militares americanos, dizendo que, na “névoa da guerra”, nem sempre todas as informações estão disponíveis -mas que eliminar os barcos é a decisão acertada.
“Vocês na imprensa, em suas salas climatizadas em Washington, não têm como entender isso”, disse Hegseth. “Vocês inventam histórias falsas no Washington Post de que eu mandei matar todo mundo, matérias sem base alguma na realidade, e aí querem fazer falas irresponsáveis sobre esses heróis americanos.”
“Cerca de 20 milhões de pessoas invadiram nosso país nos últimos quatro anos, e ninguém sabe de onde elas vêm”, prosseguiu Hegseth, citando a gestão Joe Biden em tentativa de justificar a campanha militar americana no Caribe. “Eles trazem drogas e envenenam, de forma intencional, nosso povo, matando centenas de milhares de americanos.”
“Então o presidente teve a coragem de classificar essas facções de organizações terroristas”, afirmou o secretário. “Muitos de nós servimos no Exército e lutamos contra terroristas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico. Como você trata grupos assim? Você dá um tapinha na cabeça e diz: ‘que isso não se repita’? Ou você elimina o problema diretamente por meio de um ataque cinético letal?”
Sob Trump, os EUA promovem sua maior mobilização militar na América Latina em décadas. Mais de 80 pessoas já foram mortas em ataques contra barcos no Caribe e no Oceano Pacífico, e a possibilidade de um conflito militar com a Venezuela cresce a cada dia que Washington investe mais recursos militares na ofensiva, segundo especialistas.
Ao final da conversa com jornalistas, Trump emendou um ataque a imigrantes da Somália que vivem nos EUA. Dizendo que a deputada democrata Ilhan Omar, nascida no país do leste da África, “odeia os EUA”, o presidente americano afirmou: “Os somalis não contribuem em nada para o nosso país. Eu não quero eles aqui. Existe uma razão para o país deles ser a porcaria que é. O país deles fede.”

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