Rússia acusa EUA de “pirataria” por bloqueio à Venezuela

Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores russo afirmou que as ações norte-americanas representam uma retomada de práticas de anarquia na região e alertou para o risco de agravamento da crise.

A Rússia acusou nesta quinta-feira (25) os Estados Unidos de promoverem atos de “pirataria” e “banditismo” no Mar do Caribe ao tentar bloquear a Venezuela, segundo informações da agência Reuters. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores russo afirmou que as ações norte-americanas representam uma retomada de práticas de anarquia na região e alertou para o risco de agravamento da crise.

A porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, classificou o bloqueio como equivalente ao “roubo de propriedade alheia” e defendeu a necessidade de desescalada. Segundo ela, Moscou espera que o “pragmatismo e a racionalidade” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contribuam para a busca de soluções aceitáveis para todas as partes, dentro das normas do direito internacional. Zakharova também reiterou o apoio da Rússia aos esforços do governo de Nicolás Maduro para preservar a soberania, os interesses nacionais e garantir um desenvolvimento estável e seguro da Venezuela.

As declarações ocorrem em meio a uma escalada de tensões envolvendo navios petroleiros ligados à Venezuela. Um dos casos mais recentes envolve o petroleiro Bella 1, que foi cercado pela Guarda Costeira dos EUA no último domingo (21), mas ainda não foi apreendido. Segundo a Reuters, as autoridades norte-americanas aguardavam a chegada de reforços para realizar a abordagem.

A agência Bloomberg informou, citando uma fonte próxima à operação, que o Bella 1 não transportava petróleo e acabou retornando ao oceano Atlântico. O navio não deve voltar à Venezuela. De acordo com a Bloomberg, o petroleiro sancionado foi inicialmente abordado próximo a Barbados, no Caribe, e orientado a seguir para águas mais calmas devido às condições climáticas adversas. Um oficial dos EUA afirmou que existe uma ordem judicial de apreensão e que a Guarda Costeira não desistiu da operação.

Um funcionário norte-americano ouvido pela Reuters, sob condição de anonimato, afirmou que agentes embarcados no porta-aviões Gerald Ford pertenciam a uma Equipe de Resposta de Segurança Marítima, mas estavam distantes demais do Bella 1 para realizar a abordagem naquele momento. A situação evidencia, segundo a agência, um descompasso entre o desejo do governo Trump de apreender petroleiros sancionados e os recursos limitados da Guarda Costeira, responsável pela maior parte dessas operações. Nas últimas semanas, dois petroleiros já foram apreendidos perto da Venezuela, ampliando a pressão sobre o governo Maduro.

Ainda de acordo com a Reuters, a Casa Branca determinou que as forças militares dos EUA concentrem seus esforços quase exclusivamente em manter a Venezuela em um estado de “quarentena”, especialmente no setor de petróleo, por pelo menos dois meses.

A ofensiva ocorre em um contexto de grande relevância energética. A Venezuela detém a maior reserva comprovada de petróleo do mundo, com cerca de 303 bilhões de barris, segundo a Energy Information Administration (EIA). Apesar do potencial, a produção é limitada por infraestrutura precária e sanções internacionais. Grande parte do petróleo venezuelano é extra-pesado, exigindo tecnologia e investimentos elevados, mas é considerado adequado às refinarias norte-americanas, especialmente as da Costa do Golfo.

Desde as sanções impostas em 2019, compradores passaram a recorrer a uma “frota fantasma” de navios-tanque. A China é a principal compradora do petróleo venezuelano, que representa cerca de 4% de suas importações. Em dezembro, os embarques devem superar 600 mil barris por dia, segundo analistas ouvidos pela Reuters.

O mercado global segue abastecido, mas a manutenção do embargo pode retirar quase um milhão de barris diários da oferta, pressionando os preços. As ações contra petroleiros ocorrem paralelamente a operações ordenadas por Trump contra embarcações que, segundo os EUA, transportariam drogas ilegais. Desde setembro, ao menos 104 pessoas morreram em 28 ataques conhecidos. Em entrevista, a chefe de gabinete da Casa Branca, Susie Wiles, afirmou que Trump pretende manter a pressão até que o governo venezuelano ceda.

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