'Duvido que sejam todos veganos, é preconceito', diz chef que declinou cozinhar para o príncipe William

Após cozinhar para o rei Charles, o chef paraense Saulo Jennings recusou o convite para preparar o jantar do Prêmio Earthshot, evento de sustentabilidade criado pelo príncipe William, por discordar da exigência de um cardápio 100% vegano. Ele defende maior valorização dos ingredientes brasileiros

(CBS NEWS) – O chef paraense Saulo Jennings já cozinhou para o rei Charles. Fez cordeiro e pato no tucupi para o monarca, que sorriu ao comer. O sucesso foi tanto que o chef recebeu outro convite para cozinhar para a família real britânica, desta vez para o príncipe William, que estará no Brasil por ocasião da COP30.

“Só que, estranhamente, veio o convite para 700 pessoas, porém queriam o cardápio 100% vegano”, conta Jennings à reportagem. Um dos chefs mais relevantes da culinária amazônida atual, ele é dono, entre outros estabelecimentos, da Casa do Saulo, em Belém, e do restaurante do Museu do Amanhã, no Rio, onde será o evento com o príncipe.

A primeira pergunta do chef foi se todos os 700 convidados eram veganos ou se havia algum outro motivo por trás de exigência tão específica. Após algumas semanas de conversas e negociação com a organização do evento, ele acabou por declinar o convite.

O evento em questão é o Prêmio Earthshot, fundação criada pelo príncipe voltada à sustentabilidade. A premiação ocorre no dia 5 de novembro, com a presença do herdeiro do trono britânico e de outras personalidades mundiais. Gisele Bündchen também vai estar lá.

A restrição total a ingredientes animais, porém, deixou o chef com a pulga atrás da orelha. “Eu faço pratos veganos, inclusive tenho no meu cardápio há 16 anos. Fui um dos primeiros no Pará a servir prato vegano”, diz. “A questão não é sobre não cozinhar comida vegana. É sobre a valorização do ingrediente brasileiro, inclusive agora, que estamos na época da COP.”

“Não acredito que todos os 700 sejam veganos. Acho que existe um preconceito com a comida brasileira”, aposta Jennings. “As pessoas ficam: ‘Será que eu vou me assustar? Será que são animais silvestres?’. Não é a primeira vez que isso acontece, que pessoas de outros países ficam com receio e acabam pedindo para restringir, para servir só lanches e coisas assim”, conta o chef.

‘TEM QUE TER UM PEIXE’

“Existe sim um pouco de preconceito e eles acabam pedindo que seja vegano para não correr muito risco”, avalia. “Se existe uma preferência por pratos sem carne, poderíamos fazer, por exemplo, um cardápio 80% vegano, mas dando espaço à comida brasileira. Tem que ter um peixe, você está no Brasil!”, diz.

Nos últimos dias, Jennings acabou viralizando nas redes sociais com a frase “Tô fora”, sobre ter recusado o convite do príncipe. Ele se justifica: “Essa frase foi dita nos corredores, foi uma frase de momento. É claro que não foi assim que eu falei com eles. Foram algumas semanas de negociações, eu estava insatisfeito com isso [a restrição] e decidi por declinar, com muita educação, gratidão e respeito.”

Jennings, que é embaixador gastronômico da ONU Turismo, também chama atenção para a importância do pescado na sustentabilidade de famílias amazônidas.

“Meu trabalho tem que ter um pouco de amazonidade, principalmente os peixes. Milhares de famílias subsistem desses peixes. Sou o primeiro embaixador da ONU representando a comida amazônica, tenho a missão de levar nossa comida para outros países”, diz.

O jantar do Prêmio Earthshot, no fim das contas, será assinado pela chef vegana Tati Lund. “Fico feliz que pegaram um chef do Brasil e que, de qualquer maneira, estão valorizando a nossa culinária”, acrescenta Jennings.

'Duvido que sejam todos veganos, é preconceito', diz chef que declinou cozinhar para o príncipe William

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