E-mails revelam Epstein orientando bilionário acusado de abuso sexual

Mensagens divulgadas pelo Congresso dos Estados Unidos indicam que Jeffrey Epstein sugeriu o uso de ex-agentes de segurança para abordar uma mulher que acusava o investidor Leon Black de abuso, durante a negociação de um acordo de confidencialidade em 2015.

Documentos divulgados pelo Congresso dos Estados Unidos revelam que Jeffrey Epstein atuou diretamente para ajudar o bilionário Leon Black a lidar com uma acusação de abuso sexual e a silenciar a mulher que o denunciava.

E-mails trocados em 2015 mostram que Epstein aconselhou Black a recorrer a ex-agentes de segurança para abordar a mulher com quem o empresário manteve um relacionamento extraconjugal e que, naquele momento, negociava um acordo de confidencialidade após acusá-lo de conduta sexual imprópria.

Em uma das mensagens, datada de 21 de setembro de 2015, Epstein sugeriu que Black escolhesse a melhor forma de “entregar a mensagem” e mencionou a possibilidade de usar antigos agentes ligados à imigração ou até à Scotland Yard para ir até a residência da mulher e apresentar a posição do empresário. Em outro e-mail, afirmou que haveria pessoas do mesmo perfil disponíveis em Nova York, caso ela viajasse aos Estados Unidos, acrescentando que preferia ex-agentes a integrantes do FBI ou da imigração. Segundo o texto, a abordagem deveria ser feita por um homem e uma mulher.

As mensagens fazem parte de um conjunto de documentos tornados públicos pelo Comitê de Supervisão da Câmara dos Representantes, responsável também pela recente divulgação de fotos que mostram Epstein ao lado de bilionários e outras figuras influentes. De acordo com a CBS News, os e-mails foram trocados quando Leon Black soube que Guzel Ganieva, modelo russa com quem manteve um relacionamento por cerca de seis anos, planejava viajar de Londres para Nova York com a intenção de confrontá-lo.

Embora o nome de Ganieva não apareça explicitamente nos e-mails, a emissora afirma que os detalhes deixam claro que Epstein se referia a ela. Um porta-voz de Leon Black não contestou essa interpretação, enquanto advogados da modelo se recusaram a comentar.

Minutos depois de uma das mensagens sobre a abordagem, Epstein enviou novas orientações à assistente e ao advogado de Black. Em um dos e-mails, recomendou que a assistente criasse uma conta de e-mail separada para tratar do assunto, já que a correspondência estava sendo feita por meio de servidores da Apollo Global Management, empresa fundada por Black. Nos documentos divulgados pelo Congresso, não há outros e-mails que tratem diretamente dessa disputa.

Segundo registros judiciais, Leon Black e Guzel Ganieva se conheceram em uma festa em Nova York, em 2008, e mantiveram um relacionamento extraconjugal por cerca de seis anos e meio. Após o fim da relação, Ganieva acusou o empresário de abuso sexual, acusações que Black, hoje com 74 anos, sempre negou. Foi nesse contexto que os e-mails envolvendo Epstein teriam sido trocados, enquanto os advogados de Black negociavam um acordo de confidencialidade.

O acordo foi assinado em 2015. Pelo documento, Black concordou em pagar a Ganieva 100 mil dólares por mês durante 15 anos, perdoar uma dívida de um milhão de dólares e repassar dois milhões de libras esterlinas para que ela regularizasse sua situação no Reino Unido.

Em 2021, Ganieva voltou a se manifestar publicamente e afirmou que foi coagida a assinar o acordo de confidencialidade. Ela também disse ter sido vítima de difamação depois que Black alegou que ela tentou extorqui-lo ao ameaçar tornar o relacionamento público. Os advogados do bilionário classificaram o processo como “uma obra de ficção” e sustentaram que os pagamentos tinham apenas o objetivo de garantir discrição sobre o caso.

Ainda em 2015, cerca de dois meses após a assinatura do acordo, Epstein voltou a procurar Black por e-mail para solicitar pagamentos adicionais por serviços de consultoria financeira. Em uma das mensagens, afirmou que havia feito muitas coisas pelo amigo, algumas conhecidas e outras que, segundo ele, “precisariam permanecer desconhecidas”.

A relação financeira entre Epstein e Leon Black passou a ser investigada, inclusive internamente, pela Apollo Global Management. Segundo advogados do empresário, após a análise de mais de 60 mil documentos, a empresa concluiu que Black pagou Epstein apenas por assessoria tributária. Black deixou a companhia em março de 2021, dois meses após o fim da investigação interna, alegando problemas de saúde.

Para o senador Ron Wyden, que investiga há quatro anos as relações econômicas entre Black e Epstein, as novas revelações levantam dúvidas ainda mais graves. “Nunca considerei as explicações de Black convincentes, e cada nova informação torna ainda mais perturbadoras as questões sobre o que realmente motivou seus pagamentos a Epstein e se investigações anteriores esconderam a verdade”, afirmou à CBS News.

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