Frequência de desastres por incêndios florestais dispara no mundo, mostra estudo

Pesquisa aponta que 43% dos incêndios mais destrutivos desde 1980 aconteceram nos últimos dez anos; tragédias com ao menos dez mortes são três vezes mais frequentes, e prejuízo ao PIB mundial quintuplica

SÃO CARLOS, SP (CBS NEWS) – O tamanho dos desastres causados por incêndios florestais disparou de 2015 para cá, com quase metade das ocorrências mais destrutivas acontecendo ao longo da última década, afirma um novo estudo. Há um forte elo entre a magnitude dos incêndios e o aumento da frequência de condições extremas de secura e vento, muito provavelmente geradas pela emergência climática global.

A situação é particularmente preocupante em áreas com clima e vegetação semelhantes aos do Mediterrâneo (com verões secos e florestas relativamente “ralas”, combinando árvores, arbustos e gramíneas) e em regiões temperadas com matas de coníferas (pinheiros e seus parentes).

A notícia menos pior é que áreas de savana tropical, como o cerrado brasileiro, não estão expostas aos riscos mais graves, ao menos por enquanto.

“Não estou dizendo que as coisas não estão mudando também nas savanas tropicais, ou que não há risco nessas áreas, mas apenas que elas não estão enfrentando os riscos mais altos”, declarou à Folha o coordenador da pesquisa, Callum Cunningham, da Universidade da Tasmânia, na Austrália.

Ele assina o novo estudo, publicado no periódico especializado Science, junto com colegas australianos e americanos e com um pesquisador da divisão de análise de riscos ambientais da Munich Re, multinacional alemã da área de seguros.

A seguradora teve participação importante no estudo justamente por causa de sua ampla base de dados global sobre desastres de todos os tipos, um tema que, claro, interessa muito às empresas do ramo. O banco de dados da empresa alemã foi combinado com informações compiladas pelo Centro de Pesquisa sobre a Epidemiologia de Desastres, disponibilizadas publicamente pela Universidade de Louvain, na Bélgica.

Nas duas bases de dados, os pesquisadores buscaram identificar os principais desastres causados por incêndios segundo dois critérios básicos: os que causaram mortes de dez ou mais pessoas e os que ficaram entre os 200 maiores em termos de prejuízos econômicos, levando em conta o PIB (produto interno bruto, a soma das riquezas produzidas por um país no ano) de cada nação no momento da catástrofe.

O que a análise feita com base nesses critérios mostrou é que, no período entre 1980 e 2023, não houve propriamente um aumento constante do risco de incêndios catastróficos.

Embora a frequência desses eventos tenha aumentado 4,4 vezes de 1980 para cá, 43% dos incêndios mais arrasadores aconteceram nos últimos dez anos da sequência de dados. O prejuízo, em termos do PIB mundial, aumentou cinco vezes no período, enquanto os desastres com dez ou mais mortes ficaram três vezes mais frequentes (ou seja, um ritmo bem superior ao crescimento da população mundial, que aumentou apenas 1,8 vez dos anos 1980 para cá).

Tanto pelo critério econômico quanto pelo populacional, faz sentido que os piores incêndios florestais atinjam regiões do mundo desenvolvido. Entre os “campeões” da lista, portanto, estão regiões do Mediterrâneo (Portugal, Espanha, Grécia) e áreas com clima e vegetação semelhantes no oeste dos EUA (sul da Califórnia, por exemplo) e sul da Austrália.

As exceções nesse caso, também com clima “mediterrâneo”, são a África do Sul e o Chile. Outro tipo de ecossistema, as florestas de coníferas, explicam por que as regiões ocidentais da América do Norte, incluindo o Canadá, também estão sendo muito afetadas.

A relação com alterações nos extremos do clima global parece difícil de negar. No mesmo período, a equipe verificou mudanças como um aumento de três vezes na gravidade de eventos de seca e de 2,5 vezes na falta de vapor d’água em determinados momentos do ano, por exemplo, o que facilita os incêndios.

“Nosso trabalho mostra que o risco de desastres é mais alto onde os incêndios intensos surgem em áreas densamente povoadas. A razão-chave pela qual as regiões de savana do Brasil, da África e do norte da Austrália apresentam risco relativamente mais baixo de um grande desastre é porque os incêndios nesses ambientes normalmente não são muito intensos do ponto de vista energético”, explica Cunningham.

“Isso, em parte, deve-se ao fato de que o fogo é mais frequente na savana, o que impede o acúmulo de material combustível visto em outros biomas. Também é provável que exista o impacto da velocidade dos ventos: os mais rápidos e extremos tendem a ocorrer fora dos trópicos.”

Além do esforço para reduzir as emissões de gases causadores da mudança climática, o pesquisador e seus colegas defendem que é preciso levar em conta as características de cada ambiente para tentar impedir que os incêndios se tornem ainda mais catastróficos.

Para isso, é preciso achar maneiras de diminuir o acúmulo de material combustível nas matas e reaprender técnicas de queima controlada, por exemplo -medidas que já eram praticadas por muitos povos originários antes da colonização na Austrália e na América do Norte, por exemplo.

Frequência de desastres por incêndios florestais dispara no mundo, mostra estudo

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