Imigrante afegão ligado à CIA é suspeito de atirar contra soldados da Guarda Nacional; presidente fala em terrorismo; Trump culpa Joe Biden por entradas irregulares e vai reavaliar green cards e documentos de estrangeiros no país
SÃO PAULO, SP (CBS NEWS) – Os Estados Unidos reexaminarão “todos os green cards de todos os estrangeiros de todos os países” que o governo Trump considera preocupantes, depois que dois soldados da Guarda Nacional foram baleados e gravemente feridos por um imigrante afegão em Washington.
O diretor dos serviços de imigração e cidadania dos EUA, Joseph Edlow, afirmou nesta quinta-feira (27) que, “sob direção do presidente”, ordenou um reexame completo das documentações já existentes. O órgão havia anunciado, na noite de quarta (26), a suspensão do processamento de todos os pedidos de imigração relacionados a cidadãos do Afeganistão.
O presidente Donald Trump classificou o tiroteio perto da Casa Branca de “um ato de terrorismo” e afirmou que o suspeito Rahmanullah Lakanwal, que trabalhou com a CIA no Afeganistão, veio do país do Oriente Médio para os EUA em 2021. As medidas anunciadas vem após o pedido do presidente para que o governo reexamine os casos de afegãos que entraram no país durante o mandato do democrata Joe Biden.
“Devemos tomar todas as medidas necessárias para garantir a expulsão de qualquer estrangeiro de qualquer país que não pertença aqui ou que não traga benefícios para o nosso país. Se eles não conseguem amar o nosso país, não os queremos”, disse Trump.
No anúncio desta quinta, Edlow ainda reiterou a fala do presidente ao afirmar que “o povo americano não arcará com o custo das políticas de reassentamento imprudentes do governo anterior”. Segundo ele, “a segurança dos americanos é inegociável”. Em paralelo às decisões sobre imigração, a secretária de Justiça americana, Pam Bondi, afirmou que buscará a pena de morte para o suspeito.
A promotora da capital americana, Jeanine Pirro, informou que o afegão de 29 anos morava no estado de Washington, no extremo oposto da capital do país, e que chegou de carro ao local do tiroteio.
Ele enfrenta acusações de agressão com intenção de matar. Se algum dos dois militares feridos morrer, o suspeito será acusado também de homicídio doloso, disse Pirro. “Ele escolheu o alvo errado, a cidade errada e o país errado”, acrescentou a promotora.
Junto de Pirro, o diretor do FBI, Kash Patel, afirmou que o governo Biden não realizou verificações adequadas dos antecedentes ou investigações sobre Lakanwal antes de permitir sua entrada nos EUA em 2021. Nenhum dos dois apresentou provas para sustentar a afirmação.
Patel disse que Lakanwal foi indevidamente autorizado a entrar nos EUA porque “o governo anterior tomou a decisão de permitir a entrada de milhares de pessoas neste país sem fazer uma única verificação de antecedentes ou investigação”. O afegão colaborou com as forças do governo americano, inclusive a CIA, durante a guerra em seu país.
O programa Operation Allies Welcome (operação aliados bem-vindos), que permitiu a entrada de mais de 70 mil cidadãos afegãos nos EUA, de acordo com um relatório do Congresso, foi elaborado com procedimentos de verificação, incluindo por agências de contraterrorismo e inteligência americanas. Mas a natureza em grande escala e apressada das evacuações levou críticos a dizer que as verificações foram ineficientes.
Mesmo que Trump e integrantes de seu governo culpem Biden pelas supostas falhas de triagem, o suspeito recebeu asilo no país este ano, já sob o governo do republicano, segundo um documento obtido pela agência de notícias Reuters.
No programa do qual Lakanwal fez parte, os afegãos evacuados para os EUA receberam uma “liberdade condicional” de dois anos que lhes permitiu viver e trabalhar legalmente e, posteriormente, solicitar um estatuto permanente.
O documento analisado pela Reuters demonstra que o suspeito solicitou asilo em dezembro de 2024 e foi aprovado em 23 de abril deste ano, três meses após Trump assumir o cargo. Ele não tinha antecedentes criminais conhecidos, segundo um funcionário do governo ouvido pela agência.
“Este animal nunca teria estado aqui se não fosse pelas políticas perigosas de Joe Biden, que permitiram que inúmeros criminosos não investigados invadissem nosso país e prejudicassem o povo americano”, disse Abigail Jackson, porta-voz da Casa Branca.
O diretor da CIA, John Ratcliffe, confirmou em um comunicado que Lakanwal trabalhou com unidades locais apoiadas pela agência de espionagem no Afeganistão. “O governo Biden justificou trazer o suposto atirador para os EUA em setembro de 2021 devido ao seu trabalho anterior com o governo dos EUA, incluindo a CIA, como membro de uma força parceira em Kandahar [no sul do país], que terminou logo após a evacuação caótica”, disse Ratcliffe, em referência à retirada das tropas americanas do país do Oriente Médio. “Este indivíduo -e tantos outros- nunca deveriam ter sido autorizados a vir para cá”, acrescentou.
Embora Lakanwal estivesse no país legalmente, Trump tem usado o incidente como mais uma peça em sua narrativa anti-imigração. O presidente fez da repressão aos imigrantes em situação ilegal uma peça central de seu mandato. O caso de Lakanwal, segundo analistas, pode lhe dar uma abertura para ampliar o debate além da legalidade e rejeitar a entrada de mais pessoas.

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