Putin endureceu posição em reunião com enviados de Trump

O presidente russo insinuou aumentar seu pedido inicial por terras do vizinho, que numa minuta oficial em junho incluía só as quatro províncias que anexou ilegalmente em 2022: Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson

SÃO PAULO, SP (CBS NEWS) – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, endureceu ainda mais sua posição em relação às negociações para chegar a um acordo que encerre a Guerra da Ucrânia, maior conflito em solo europeu desde 1945.

Segundo relato feito à Folha por duas pessoas com conhecimento do assunto em Moscou, a reunião de cinco horas do russo com o negociador americano Steve Witkoff e o genro de Donald Trump Jared Kushner serviu para que Putin rejeitasse quaisquer concessões a Volodimir Zelenski.

A dupla enviada pelo presidente americano tentava uma solução de consenso para a terceira tentativa de Trump de acabar com a guerra que ele prometeu, na campanha que o levou de volta à Casa Branca, encerrar em 24 horas.

A proposta era uma revisão do texto com 28 pontos montado por Witkoff e pelo negociador russo Kirill Dmitriev, que estava ao lado de Putin com o assessor presidencial Iuri Uchakov no encontro encerrado na madrugada desta quarta-feira (3, início da noite de terça no Brasil).

Pelos poucos detalhes disponíveis, ela retirava os itens que não tinham ligação com a guerra em si, como selar a paz entre a Rússia e a aliança ocidental Otan, e amenizava as demandas russas atendidas em quase toda sua totalidade no primeiro documento -que Putin nunca chancelou como seu.

De acordo com os relatos ouvidos pela reportagem, o presidente rejeitou todas as ideias mais favoráveis a Kiev, como a negociação territorial a partir das linhas de batalha atuais -o que deixaria cerca de 15% da vital área de Donetsk ainda sob controle ucraniano.

Além disso, Putin insinuou aumentar seu pedido inicial por terras do vizinho, que numa minuta oficial em junho incluía só as quatro províncias que anexou ilegalmente em 2022: Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson.

Ele mencionou, segundo o relato, os ganhos militares recentes na região de Kharkiv, no norte do país, visando estabelecer o que ele chama de área de segurança -um tampão isolando o local do sul da Rússia, que Zelenski chegou a invadir por oito meses.

É uma região que a elite russa considera sua. Como a Folha mostrou no ano passado, o Kremlin até bancou a edição de cartilhas infantis para as escolas das quatro regiões anexadas e também Kharkiv.

Com efeito, o único comentário público feito no Kremlin sobre detalhes da reunião, feito por Uchakov, enfatizava a diferença de visões sobre questões territoriais. O porta-voz Dmitri Peskov apenas negou que o chefe tivesse rejeitado o plano como um todo, dizendo que as negociações continuam.

Outros dois pontos citados como inaceitáveis na conversa foram a manutenção da possibilidade de a Ucrânia ingressar na Otan no futuro e o emprego de parte das reservas russas congeladas no exterior, objeto de uma ofensiva da União Europeia nesta quarta, para reconstruir a Ucrânia.

Segundo agências de notícias, Witkoff e Kushner já relataram a conversa a Trump na tarde desta quarta. Os observadores russos consultados dizem que a impressão no Kremlin é de que eles ouviram, anotaram e iriam passar o recado. Houve pouca contestação além da apresentação dos pontos em si.

Agora resta saber como Trump reagirá. Ele já foi e voltou na pressão sobre Moscou, mas o temor maior já expressado por Zelenski é de que a negociação esmoreça e o americano deixe Kiev na mão com seus mais limitados aliados europeus.

Pesa em favor desse cenário a renovada disposição bélica da Putin. O russo anunciou avanços importantes nesta semana, alguns negados por Kiev, e parece convencido de que pode ao menos conquistar seus objetivos já colocados “manu militari”.

Um sinal claro disso foi a provocação que fez à Europa minutos antes de se encontar com os americanos, dizendo que iria à guerra agora se os rivais assim quisessem. Com as sanções econômicas atrapalhando, mas não inviabilizando a guerra até aqui, ele tem fôlego para manter a ofensiva.

Desta forma, como disse nesta quarta o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, apenas Trump poderá mediar o fim do conflito, embora talvez não como desfecho que o holandês deseja.

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