Show de rock de Milei em meio a crise é criticado até por aliados

Em meio à crise política provocada pela renúncia de José Luis Espert, aliado acusado de receber recursos de um suspeito de tráfico, Javier Milei realizou um show em Buenos Aires que gerou forte repercussão negativa. Críticos chamaram o evento de “surrealista” e “fora da realidade do país”

(CBS NEWS) – Javier Milei conseguiu uma quase unanimidade com o show dado por ele no Movistar Arena, casa portenha de espetáculos para 15 mil pessoas, na noite de segunda-feira (6). Infelizmente para o presidente, as coincidências eram de críticas negativas.

O espetáculo não poderia ter ocorrido em um momento mais sensível: menos de 24 horas após José Luis Espert, principal candidato de Milei a deputado nacional pela província de Buenos Aires no próximo dia 26, se ver forçado a renunciar.

O governo sofreu dias de desgaste após documentos serem revelados pela Justiça do Texas apontando que Espert recebeu recursos de Fred Machado, suspeito de envolvimento com o tráfico internacional de drogas.

Os organizadores do show esperavam que Espert estivesse no palco com Milei, para a apresentação de seu novo livro, “La Construcción del Milagro” (A Construção do Milagre), como ele fez em um evento parecido no ano passado. Mas a crise política riscou o nome de Espert também dessa lista.

Dois jornais argentinos que dificilmente coincidem em suas capas, desta vez concordaram.

“Um show surrealista no meio da crise”, definiu o La Nacion. O jornal conservador lembrou que o grupo político do presidente aguarda novidades do possível auxílio financeiro dos Estados Unidos, com uma visita da equipe econômica em Washington desde sexta-feira (3).

Já o diário de esquerda Página/12 comparou Milei aos músicos que seguiram tocando enquanto o Titanic afundava. “Milei tentou reavivar sua campanha com músicas de artistas que não gostam dele”, escreveu a publicação.

Como na campanha de 2023, o presidente abriu o evento cantando “Panic Show”, do La Renga, que fala de um leão -apelido de Milei, pelo corte de cabelo que lembra uma juba- que devora seus adversários.

Pulou, dançou e cantou para uma plateia de apoiadores, que puderam retirar ingressos gratuitos para vê-lo tocar com uma banda formada por deputados e outros aliados. O partido de Milei não divulgou os custos do evento e nem se ele foi patrocinado.

“Tem fogo?”, perguntou o presidente horas antes da apresentação, durante o ensaio da banda, ao testar os efeitos especiais, de chamas e fumaça. No evento, Milei também entoou versos do Hino Nacional da Argentina, enrolado em uma bandeira do país.

“Eu que vivi entre fascistas/ Eu que morri no altar/ Eu que nasci com os que estavam bem/ Mas à noite tudo dava errado”, cantou em seguida o presidente, os versos no original, em espanhol, de “Demoliendo Hoteles”, de Charly García, um dos artistas mais queridos do rock argentino.

A canção, entre as principais de García, é uma crítica à última ditadura (1976-1983), mas o presidente adaptou alguns versos para criticar a oposição kirchnerista.

Já em “Rock del Gato”, dos Ratones Paranoicos, o presidente cantou que “se tudo sair bem, ele fará de novo”.

No meio do espetáculo, Milei reforçou seu apoio a Israel e fez uma homenagem aos ataques de 7 de Outubro e à comunidade judaica na Argentina. Para isso, escolheu a canção popular “Hava Naguila” (“vamos nos alegrar”, em hebraico), geralmente reservada para momentos festivos.

“Acredito que nunca vimos algo assim”, disse o apresentador do LN+ Esteban Trebucq, um dos primeiros a entrevistar Milei antes que ele se tornasse presidente e que olhava incrédulo as imagens da apresentação.

A candidata a deputada nacional María Eugenia Talerico, crítica ao kirchnerismo e que estava no programa, começou a chorar quando questionada sobre o que achava do espetáculo. “Isso me causa muita consternação”, disse Talerico. “Ele deveria estar pedindo perdão à sociedade argentina, que não está passando por um bom momento.”

Luis Majul, outro jornalista alinhado a Milei, também criticou o evento. “Tudo isso, se a economia estivesse indo bem, e o governo não tivesse os problemas que teve com os casos $Libra [criptoativo promovido por Milei], Spagnuolo [de suposta corrupção na compra de medicamentos] e Espert, poderia ser decodificado de outra forma”, disse Majul, também no canal LN+. “Obviamente, eles querem recriar uma mística, que está em outro contexto.”

O presidente seguiu sua agenda de campanha nesta terça-feira (7) em um evento em Mar del Plata. Também deve visitar nos próximos dias Mendoza, Santa Cruz, Chaco e Corrientes.

Show de rock de Milei em meio a crise é criticado até por aliados

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