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  • Focus: projeção de crescimento do PIB de 2025 segue em 2,16% e em 1,78% para 2026

    Focus: projeção de crescimento do PIB de 2025 segue em 2,16% e em 1,78% para 2026

    O BC diminuiu a sua estimativa de crescimento da economia brasileira este ano, de 2,1% para 2,0%, no Relatório de Política Monetária (RPM) do terceiro trimestre

    A mediana do relatório Focus para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2025 permaneceu em 2,16%. Um mês antes, era de 2,16%. Considerando apenas as 50 projeções atualizadas nos últimos cinco dias úteis, mais sensíveis a novidades, a estimativa avançou de 2,15% para 2,17%.

    O Banco Central diminuiu a sua estimativa de crescimento da economia brasileira este ano, de 2,1% para 2,0%, no Relatório de Política Monetária (RPM) do terceiro trimestre. Segundo a autarquia, a redução ocorreu devido aos efeitos, ainda incertos, do aumento das tarifas de importação pelos Estados Unidos da América, e a sinais de moderação da atividade econômica no terceiro trimestre. Esses fatores, porém, foram parcialmente compensados por prognósticos mais favoráveis para a agropecuária e para a indústria extrativa, disse.

    A estimativa intermediária do Focus para o crescimento da economia brasileira em 2026 seguiu em 1,78%. Um mês antes, era de 1,80%. Considerando só as 48 projeções atualizadas nos últimos cinco dias úteis, passou de 1,77% para 1,75%.

    A mediana para o crescimento do PIB de 2027 subiu de 1,83% para 1,90%. Quatro semanas antes, era de 1,90%. A estimativa intermediária para 2028 ficou estável, em 2,00%, pela 86ª semana seguida.

    *Conteúdo elaborado com auxílio de Inteligência Artificial, revisado e editado pela Redação da Broadcast.

    Focus: projeção de crescimento do PIB de 2025 segue em 2,16% e em 1,78% para 2026

  • Lula 3 pode ter a menor inflação acumulada desde FHC

    Lula 3 pode ter a menor inflação acumulada desde FHC

    O governo tenta equilibrar as contas e gastos e vê desafio para 2026

    BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Ao término do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a inflação acumulada no período de quatro anos pode ser a menor vista no país desde 1999, quando foi implementado o regime de metas -sistema que orienta a política de juros do Banco Central para manter a estabilidade de preços.

    Segundo cálculo do economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), feito a pedido da reportagem, a inflação pode chegar ao final do governo Lula 3 acumulada em 19,11%. Se as projeções para este e para o próximo ano se concretizarem, será o menor índice observado em um mandato em mais de 25 anos.

    Desde que o regime de metas para inflação entrou em vigor, o menor resultado ocorreu no segundo mandato de Lula. No acumulado de 2006 a 2010, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) totalizou 22,21%.

    Mesmo com a perspectiva de queda na inflação acumulada, o sentimento do brasileiro ainda é de peso no orçamento. De acordo com Braz, isso pode ser explicado porque esse indicador se difere de outros, como o IPCA, podendo gerar diferenças entre os números realizados e a percepção pública com relação aos preços. Para o economista, é necessário avaliar quais itens subiram acima da média durante o governo.

    Pesquisa Datafolha de abril deste ano mostrou que, para 54% dos brasileiros, o governo Lula seria o principal responsável pelo aumento dos preços dos alimentos nos meses anteriores.

    Para integrantes da equipe de comunicação do governo, ouvidos pela reportagem sob reserva, essa disparidade entre os números realizados e a percepção popular ainda pode demonstrar um desafio a ser enfrentado para a campanha eleitoral de 2026.

    Mas, na avaliação desses interlocutores, isso deve ser atenuado com pautas voltadas à renda, emplacadas pela gestão petista ao longo dos quatro anos -como o Auxílio Gás e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês (ainda em tramitação no Congresso).

    Eles apontam, ainda, que os efeitos de indicativos como a queda da inflação demoram mais a serem sentidos na ponta. Isso porque a queda dos preços não significa que os itens estejam tão baratos quanto a população gostaria.

    Na última campanha eleitoral, Lula teve como mote a promessa de que as famílias poderiam voltar a comer picanha e tomar uma “cervejinha” nos fins de semana. Em 2023, os preços das carnes registraram queda de janeiro a agosto, mas voltaram a subir a partir de setembro daquele ano. A promessa pela queda dos preços é pauta cara ao governo desde a campanha de 2022.

    Em dezembro de 2024, a inflação da picanha estava em 8,74%, acima do IPCA cheio, que havia fechado o ano em 4,83%. Já o cenário em 2022 ia na direção oposta. Enquanto o índice oficial fechou o ano em 5,79%, a inflação da picanha estava em 0,49%.

    “Os salários dos trabalhadores são corrigidos pela inflação, então, se a picanha sobe igual ao IPCA, por exemplo, isso não é um problema, porque o seu salário vai acompanhar”, afirma Braz.

    “Só que o que acontece é que às vezes a carne sobe 20% e o seu salário sobe 4%. Então, um item de primeira necessidade subir 20% significa que você vai comer menos carne, você vai substituir carne por ovo, vai comer menos vezes na semana, vai comprar uma quantidade de quilo menor. Então você vai perder qualidade de vida”, complementa o economista.

    A perspectiva de que a gestão petista crave em 2026, ano eleitoral, um novo recorde de menor inflação acumulada tem sido motivo de celebração no governo petista. Um dos membros do primeiro escalão que tem incorporado esse discurso é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

    “O senhor [Lula] vai terminar o terceiro mandato com a menor inflação acumulada da história do Brasil. O mais importante é que o senhor está batendo esse próprio recorde. Porque antes desse mandato, o senhor já tinha batido esse recorde no segundo mandato”, disse Haddad no evento de lançamento do programa Reforma Casa Brasil.

    No Brasil, o sistema de metas para inflação foi adotado em 1999. Naquela época, o alvo foi inicialmente fixado em 8% ao ano. Com o passar do tempo, o objetivo a ser perseguido pelo BC foi sendo reduzido gradualmente.

    Desde o início do ano, está em vigor o regime de avaliação contínua. O alvo central é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

    A estrategista de inflação da Warren Investimentos Andréa Angelo afirma que a alta de preços é o aspecto de maior impacto para a população. “É você chegar no mercado com R$ 100 e não conseguir comprar o que a sua cesta de consumo precisa”, diz.

    “Quando o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vai pesquisar todos os meses os preços na economia, em todas essas capitais e nos lugares que ele pesquisa, ele vê uma média. Então, uma variação de preço mais contida, mas com sinal positivo, ainda é uma inflação. Os preços estão crescendo, mas crescendo em ritmo de um pouco mais devagar”, completa.
    HISTÓRICO DA INFLAÇÃO ACUMULADA NO BRASIL NOS ÚLTIMOS 30 ANOS EM %

    1998 – FHC 1: 43,46%
    2002 – FHC 2: 39,88%
    2006 – Lula 1: 28,2%
    2010 – Lula 2: 22,21%
    2014 – Dilma 1: 27,03%
    2018 – Dilma 2/Temer: 25,64%
    2022 – Bolsonaro: 26,93%
    2025 – Lula 3 (até setembro): 13,67%
    2026 – Lula 3:* 19,11%

    *Projeção com base no boletim Focus de 27out

    Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e cálculo do economista André Braz

    Lula 3 pode ter a menor inflação acumulada desde FHC

  • Lula: COP30 fará o mundo olhar de uma forma diferente para a Amazônia

    Lula: COP30 fará o mundo olhar de uma forma diferente para a Amazônia

    Presidente discursou em visita a ribeirinhos no oeste do Pará: “É um momento único na história do Brasil, porque é um momento em que a gente está obrigando o mundo a olhar a Amazônia com os olhos que deve olhar para a Amazônia”

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou neste domingo (2) com moradores da comunidade do Jamaraquá, que reúne cerca mais de mil famílias de extrativistas e ribeirinhos, na Floresta Nacional (Flona) do Tapajós, que fica no Oeste do Pará. A visita faz parte de uma série de agendas prévias à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que acontecerá no período de 10 a 21 de novembro, em Belém, no Pará.

    Antes disso, nos próximos dias 6 e 7 de novembro, Lula vai presidir a Cúpula do Clima, que reunirá dezenas de chefes de Estado na capital paraense. Por isso, ao longo da próxima semana, o presidente permanecerá no estado. Aos ribeirinhos, ele discursou valorizando a oportunidade que a cúpula oferece de dar visibilidade à Amazônia e fazer o mundo ter um olhar diferente, que vai além da preservação da natureza.

    “Essa COP30 é um momento único na história do Brasil, porque é um momento em que a gente está obrigando o mundo a olhar a Amazônia com os olhos que deve olhar para a Amazônia. Não é só pedir para a gente manter a floresta em pé”, disse. 

    “É preciso pedir para que a gente mantenha a floresta em pé e para ela ficar em pé, nós temos que dar sustentação econômica, educacional, de saúde para as pessoas que tomam conta dessa floresta em pé, porque essas pessoas não ganharam o que comer, as pessoas não vão tomar conta de nada”, acrescentou.

    Próxima a Alter do Chão, a comunidade do Jamaraquá também é reconhecida pelo turismo de base comunitária, com trilhas por dentro da floresta e dos igarapés, e ainda pela fabricação de biojóias.

    A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, também participou da visita. Segundo ela, o estilo de vida das famílias da região protege a floresta. “Aqui é exemplo de bioeconomia, aqui é exemplo de sociobiodiversidade, aqui é exemplo de como mantém a floresta em pé e ela gera condições de vida e dignidade para as pessoas”, disse.

    “Aqui tem os extrativistas, aqui tem os artesãos e as artesãs, aqui tem os seringueiros e seringueiras, aqui são muitas as atividades que eles vão combinando ao longo do ano”, completou.

    Segundo ela, os ribeirinhos sabem respeitar o clico da floresta, mantém a mata de pé por gerações, o que da dignidade às famílias. Segundo a ministra, a Flona do Tapajós reúne 1,2 mil famílias distribuídas em uma área de mais de 500 mil hectares preservados.

    Lula: COP30 fará o mundo olhar de uma forma diferente para a Amazônia

  • Mendonça suspende julgamento de governador após RR contratar seu instituto

    Mendonça suspende julgamento de governador após RR contratar seu instituto

    André Mendonça é fundador do Iter, que foi contratado pelo governo de Denarium e recebeu R$ 273 mil, em fevereiro, para dar dois cursos para funcionários estaduais

    BRASÍLIA, DF (UOL/CBS NEWS) – O ministro André Mendonça pediu vista e suspendeu, em agosto, o julgamento no TSE que pode cassar o governador de Roraima. Em março, o instituto fundado pelo ministro recebeu R$ 273 mil do governo do estado, em um contrato sem licitação. O caso foi revelado pelo jornal O Globo e confirmado pelo UOL.

    O governador Antônio Denarium (PP) teve o mandato cassado e recorreu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O motivo da cassação foi abuso de poder político e econômico durante as eleições de 2022, quando Denarium foi reeleito. Foram quatro cassações em nível estadual, as duas últimas em janeiro e novembro de 2024.

    Em agosto, a ministra Isabel Galloti, relatora do caso no TSE, votou pela cassação imediata; no mesmo dia, Mendonça pediu vista e suspendeu o julgamento. O pedido de vista, feito em 26 de agosto, era válido por 30 dias. No final de setembro, Mendonça renovou o pedido de vista por mais 30 dias. O TSE não informou ao UOL quando o julgamento será retomado.

    Mendonça é fundador do Iter, que foi contratado pelo governo de Denarium, em fevereiro, para dar dois cursos para funcionários estaduais. Naquele mês, Denarium já tinha apresentado recursos ao TSE contra sua cassação. Mendonça já era ministro do TSE – está na corte desde junho de 2024.

    Em março, o governo de Roraima pagou R$ 273 mil pelos dois cursos, que tiveram duração total de seis dias – de 19 a 26 de fevereiro. Isso dá R$ 45,5 mil por dia de curso. Foram ofertadas 40 vagas para cada um dos treinamentos.

    A contratação ocorreu sem licitação; um dos cursos era justamente sobre como fazer licitações; o contrato foi celebrado pela Secretaria de Licitação e Contratação. O governo de Roraima dispensou a licitação sob a alegação de “inexigibilidade”.

    Em dezembro, a Secretaria de Licitação mandou um email para o Iter solicitando proposta de preços; orçamento de 21 páginas foi enviado quatro horas depois. Além do orçamento detalhado, Iter enviou dois atestados de capacidade técnica e quatro notas fiscais de cursos ofertados por outras instituições públicas e privadas.

    Proposta do Iter traz a foto e a biografia de Mendonça, apresentado como “founder” (fundador). Já o presidente do Iter é Victor Godoy, ex-ministro da Educação de Jair Bolsonaro. Mendonça foi ministro da Justiça de Bolsonaro antes de ser indicado ao STF.

    Mendonça também assinou os diplomas dos alunos dos cursos. “Prof. Dr. André Mendonça, Founder”. A segunda assinatura no diploma é de “Victor Godoy, CEO”. “Completou o curso sobre Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos – turma in company Roraima com carga horária de 24 horas, no período de 24 a 26 de fevereiro de 2025”.

    O Iter se tornou uma sociedade anônima fechada em outubro, não permitindo saber quem são seus sócios atuais; até então, uma empresa de Mendonça era sócia do instituto. Os demais sócios eram Victor Godoy; Rodrigo Sorrenti, chefe de gabinete de Mendonça no STF; Tercio Tokano, advogado da União e professor do Mackenzie; e o economista Danilo Dupas, que foi presidente do Inep na gestão de Bolsonaro.

    Procurado, Mendonça não se manifestou. O UOL entrou em contato com o gabinete do ministro e com as assessorias do TSE do Supremo Tribunal Federal (STF). O texto será atualizado se houver resposta.

    O governador de Roraima também não respondeu à reportagem. Foi eleito governador pela primeira vez em 2018, como representante da onda bolsonarista. Apesar da cassação no tribunal eleitoral regional, está no penúltimo ano do segundo mandato.

    O Tribunal de Contas de Roraima também contratou o Iter para dar cursos de oratória a três conselheiros, ao preço de R$ 54 mil. As notas de empenho foram emitidas de março a julho deste ano. O UOL questionou o tribunal a respeito. O texto será atualizado se houver resposta.

    Governador simulou calamidade pública, diz ministra

    No TSE, a ministra Isabel Galloti destacou os gastos eleitorais de Denarium em ano eleitoral com os programas “Cesta da Família” e “Morar Melhor”. Para ela, o “Morar Melhor” deu um drible na proibição de iniciar projetos sociais em anos eleitorais. “Um engenhoso expediente, que culminou na criação de novos programas em ano eleitoral com dividendos eleitorais em favor do candidato reeleito ao governo do estado”, disse Gallotti.

    Despesas do governo de Roraima subiram mais de 42 vezes entre 2021 e 2022, segundo dados avaliados pelo TSE. O cálculo já desconta os valores recebidos do governo federal. Uma falsa calamidade pública teria sido usada como “subterfúgio”. “A suposta situação da calamidade pública foi utilizada como subterfúgio para a massiva transferência irregular de recursos com finalidade de benefício eleitoral”, afirmou a ministra.

    Os gastos de campanha de Denarium ainda estouraram em 25 vezes o limite legal. O processo foi aberto por uma oponente de Denarium nas eleições de 2022.

    No processo, a defesa de Denarium nega irregularidades nos programas sociais e disse que eles não tinham caráter eleitoreiro. A transferência de dinheiro do governo estadual para a prefeituras estaria dentro da legalidade também.

    Mendonça suspende julgamento de governador após RR contratar seu instituto

  • Mulheres ganham 21% menos que homens nas 54 mil empresas com 100 ou mais funcionários

    Mulheres ganham 21% menos que homens nas 54 mil empresas com 100 ou mais funcionários

    Dados fazem parte de relatório da Lei da Igualdade Salarial; Supremo ainda deve decidir sobre o tema; negras recebem, em média, 53,3% da remuneração dos homens brancos

    BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A disparidade salarial entre homens e mulheres no Brasil aumentou no período de um ano, e mulheres receberam, em média, 20,7% menos do que homens em 2023, mostra novo levantamento do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    O segundo relatório de transparência salarial, que será divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pelo Ministério das Mulheres nesta quarta-feira (18), foi compilado a partir de informações enviadas por 50.692 empresas, todas com cem ou mais empregados. O envio dos dados está previsto na lei de igualdade salarial aprovada em 2023.

    No primeiro documento, divulgado pelo governo em março, a remuneração das mulheres era 19,4% menor do que a dos homens, com base em números de 2022.

    A subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, Paula Montagner, ressalta que o desequilíbrio no mercado de trabalho reflete o fato de as mulheres geralmente ocuparem postos que pagam salários menores.

    “No ano de 2023, houve um forte crescimento da geração de empregos para mulheres, mas são vagas que pagam menos. Então, a diferença [salarial entre homens e mulheres] se ampliou um pouco”, afirma. “Esses postos de trabalho precisam de salários maiores.”

    Em 2023, a remuneração média das mulheres foi R$ 3.565,48, enquanto a de homens ficou em R$ 4.495,39.

    Em posições de chefia, a discrepância de renda média entre homens e mulheres é ainda maior e chega a 27% para dirigentes e gerentes (em 2022, a cifra era de 25,2%).

    O levantamento do governo mostra que a desvantagem das mulheres é ainda maior quando se faz o recorte de raça. De acordo com o relatório, as mulheres negras recebem 50,2% da remuneração dos homens brancos no Brasil. Em 2023, o ganho médio da mulher negra foi de R$ 2.745,76, enquanto a dos homens não negros foi de R$ 5.464,29.

    “As mulheres negras estão concentradas em ocupações da base da pirâmide, principalmente serviços domésticos, serviços de limpeza, serviços de alimentação, de saúde básica. Os homens, por outro lado, estão concentrados na indústria de transformação, nos serviços públicos, nas atividades de direção e gerenciamento”, afirma Montagner.

    Em 42,7% dos estabelecimentos com pelo menos cem empregados que participaram do levantamento, as mulheres pretas ou pardas eram até 10% do contingente de funcionários.

    De acordo com a subsecretária do Ministério do Trabalho, a ideia agora é conversar com os estabelecimentos que apresentaram dados mais positivos para então compartilhar as boas práticas com todas as companhias brasileiras.

    Conforme a legislação, se as empresas com cem ou mais funcionários não publicarem o relatório de transparência salarial, deve ser cobrada multa administrativa de até 3% da folha de pagamento, com limite fixado em cem salários mínimos.

    Segundo Montagner, nenhuma empresa foi multada depois da divulgação do primeiro relatório. “A gente vai tentar conversar com as empresas. Primeiro educa e, se a empresa for resistente, é multada”, diz.

    Quanto à disputa travada na Justiça por algumas empresas contra a divulgação do relatório de transparência salarial, a subsecretária diz que o governo trabalha para mostrar que informações sigilosas não estão sendo reveladas, mas acrescenta que todas as decisões judiciais estão sendo cumpridas e que 450 relatórios de companhias não foram publicados.

    Nesta quarta, o Ministério das Mulheres também vai divulgar o Plano Nacional de Igualdade Salarial e Laboral entre Mulheres e Homens, com 79 ações divididas em três eixos, abordando aspectos como acesso e ampliação da participação das mulheres no mundo do trabalho, a permanência delas nas atividades e a valorização profissional das mulheres.

    Mulheres ganham 21% menos que homens nas 54 mil empresas com 100 ou mais funcionários

  • Bolsonaro perde força com Lula em alta e iminência de prisão

    Bolsonaro perde força com Lula em alta e iminência de prisão

    Com o PL da Dosimetria sem acordo no Congresso, o fim dos recursos no Supremo, que podem levar ao trânsito em julgado, e Lula em alta, especialistas avaliam que Jair Bolsonaro terá seu capital político posto à prova em 2026

    O ex-presidente Jair Bolsonaro vem perdendo espaço político diante da pressão do Supremo Tribunal Federal (STF), das negociações travadas no Congresso e da recuperação de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas. O cerco se intensificou com os últimos recursos apresentados na Corte, o impasse em torno do PL da Dosimetria, enfraquecido pela crise na segurança pública, e a reabertura do diálogo entre o governo federal e Donald Trump – fatores que, somados, colocam em xeque a força política de Bolsonaro para 2026.

    O desgaste do ex-presidente aparece nos campos jurídico, político e simbólico. Condenado a 27 anos e três meses de prisão, Bolsonaro apresentou, por meio da defesa, um dos últimos recursos possíveis antes de o relator Alexandre de Moraes e os demais ministros da Primeira Turma decidirem sobre sua prisão.

    Como mostrou a reportagem, a expectativa é que o julgamento dos recursos, marcado para 7 de novembro, não traga alterações substanciais, já que os argumentos apresentados repetem teses já superadas.

    No campo político, o enfraquecimento também se reflete no Congresso. O rebatizado PL da Dosimetria, sob relatoria de Paulinho da Força (Solidariedade-SP), segue travado na Câmara, em parte pela falta de sinalização do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), aliado de Lula. O texto reduz as penas para quem participou dos atos golpistas de 8 janeiro de 2023 e poderia beneficiar diretamente Bolsonaro.

    Para o líder do PDT na Câmara, Mário Heringer (MG), a proposta \”perdeu gás\” até mesmo entre a oposição. Já o líder da bancada oposicionista, Zucco (PL-RS), rebate e afirma que o projeto permanece na pauta do partido. Segundo ele, apenas uma anistia “ampla, geral e irrestrita” interessa à oposição.

    Na avaliação do cientista político Leandro Consentino, do Insper, a perda de tração do projeto decorre de uma combinação de fatores, entre eles, a megaoperação contra o Comando Vermelho, no Rio, na terça-feira, 28, que recolocou a segurança pública no centro das discussões da Câmara. “Essa pauta vai perdendo o timing e ficando velha. Além de não agradar nem à esquerda nem à direita, acabou naufragando”, afirmou.

    O professor também relaciona o impasse aos sucessivos desgastes da Câmara, como o provocado pela PEC da Blindagem, aprovada pelos deputados, mas sepultada no Senado após forte reação pública. O episódio reforçou entre os parlamentares a percepção de que o aval dos senadores é essencial para o avanço do PL da Dosimetria, diante do temor de repetir o desgaste político daquela votação.

    A proposta, que chegou a ser uma das principais apostas do entorno de Bolsonaro, perdeu impulso após a ofensiva articulada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e pelo comentarista Paulo Figueiredo junto a autoridades dos Estados Unidos, numa tentativa de pressionar o Supremo e interferir na ação penal do golpe em que o ex-presidente foi condenado.

    A iniciativa teve efeitos em cadeia: de um lado, a tarifação de 50% sobre produtos brasileiros, as sanções impostas a ministros do STF e a obstrução do canal diplomático entre os governos de Lula e Trump; de outro, a imposição de prisão domiciliar a Bolsonaro como medida cautelar e a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra Eduardo por coação no curso do processo.

    Após meses de tratativas conduzidas pelo Itamaraty, o diálogo entre Brasília e Washington foi restabelecido, culminando no primeiro encontro entre Lula e Trump, na Malásia, na última semana, desde que ambos assumiram o poder.

    Para o cientista político Antonio Lavareda, o episódio simboliza a capacidade de Lula de converter tensão em diálogo. Segundo ele, essa postura, somada a uma comunicação mais assertiva do governo, ajuda a explicar a recuperação de popularidade do presidente. “O que teve maior peso foi a reação de Lula e do governo brasileiro ao tarifário e às sanções de Trump”, disse.

    O avanço de Lula nas pesquisas também reconfigura o cenário da direita, enfraquecendo a principal aposta para 2026: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). A melhora na avaliação do presidente, avalia Lavareda, reduz o espaço político para que Tarcísio se firme como alternativa competitiva, o que, na prática, amplia o isolamento de Bolsonaro e afasta a perspectiva de uma guinada à direita em 2027, capaz de abrir caminho para um eventual indulto.

    Os especialistas acreditam que a soma desses fatores consolida o enfraquecimento do ex-presidente, deixando-o com um cacife político cada vez mais incerto para 2026. “Bolsonaro ainda tem algum capital político, mas ele está cada vez menor. Sua ascendência sobre a direita vem se erodindo, embora a real dimensão desse desgaste só possa ser medida em 2026”, afirmou Consentino.

    Bolsonaro perde força com Lula em alta e iminência de prisão

  • Especialistas criticam retórica de governadores sobre combate ao crime

    Especialistas criticam retórica de governadores sobre combate ao crime

    Governadores de direita se alinharam ao governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, na política adotada por ele de enfrentamento ao tráfico de drogas. A última operação deixou 121 mortos, sendo quatro policiais

    Conflitos não são administrados apenas com tiros de fuzil, mas também com discursos políticos. Em paralelo às operações policiais nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, governadores alinhados ao chefe da administração fluminense, Cláudio Castro, criaram o “Consórcio da Paz”, projeto de integração para combater o crime organizado no país.

    O sociólogo Ignacio Cano, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), critica o termo. Para ele, trata-se de uma estratégia discursiva que inverte o significado real da operação que deixou 121 mortos.

    “Os governadores erraram no nome. Deveria se chamar Consórcio da Morte, porque é isso que eles estão propondo. Certamente não é a paz”, diz Cano. “Retoricamente, não vai pegar bem e, cada vez que usarem o termo, vão ser lembrados da quantidade de mortes que os seus governos produzem. A maioria dos governadores de direita estão promovendo a letalidade policial”. 

    Sete governadores integram o “Consórcio da Paz”. Além de Castro, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina; Eduardo Riedel (Progressistas), do Mato Grosso do Sul; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; e Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal.

    “Narcoterrorismo”

    Sociólogos, cientistas políticos e especialistas em segurança pública ouvidos pela Agência Brasil analisaram o vocabulário adotado pelas autoridades nos últimos discursos. E apontaram para os usos políticos e simbólicos dos termos relacionados à operação mais letal já registrada no Brasil.

    Entre as palavras recorrentes, está “narcoterrorismo”. Ele foi usado por Castro, Tarcísio e Zema para se referir às facções criminosas, principalmente as maiores que tem Rio de Janeiro e São Paulo como centros de poder.

    “Isso é mais uma bobagem que atrapalha a polícia, a segurança pública, a sociedade e o próprio governo. Da mesma forma como usam ‘narcomilícia’ e outras categorias mais antigas como ‘Estado paralelo’. Isso, na verdade, oculta incompetências, incapacidades e oportunismos políticos”, diz Jacqueline Muniz, antropóloga e cientista política, professora do departamento de segurança pública da Universidade Federal Fluminense (UFF).

    “Quando você diz que está diante de um narcoterrorismo, você está dizendo que precisa de mais poder, mais dinheiro, mais orçamento e que não precisa dar satisfação do que vai fazer”, complementa.

    Para Ignacio Cano, o termo é errado também do ponto de vista conceitual. “Terrorismo normalmente é associado a objetivos políticos. É o uso indiscriminado da violência contra civis para perseguir esses objetivos. Um narcoterrorista não teria nenhuma motivação política. O objetivo é o mesmo de todo criminoso, que é o lucro. O termo é uma contradição em si mesmo”, explica o sociólogo.No Brasil, a Lei n° 13.260, de 2016, define que: “terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública”.

    Facções de tráfico de drogas são classificadas pela legislação brasileira como organizações criminosas. E é dessa forma que o governo federal, especialmente o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, tem se posicionado.

    Um grupo de deputados está tentando mudar isso por meio do Projeto de Lei 724/25, que amplia o conceito de terrorismo para incluir o tráfico de drogas ilícitas. O projeto é de autoria do deputado Coronel Meira (PL-PE) e foi aprovado há algumas semanas na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados.

    Ainda será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), antes de ser votado pelo Plenário da Câmara. Para virar lei, precisa ser aprovado pela Câmara e pelo Senado.

    Pressão internacional

    Esse entendimento tem recebido pressão internacional de políticos de direita. Os governos de Javier Milei, na Argentina, e Santiago Peña, no Paraguai, classificaram recentemente as organizações criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) e Comando Vermelho (CV) como terroristas. Os Estados Unidos sugeriram que o Brasil fizesse o mesmo em visita da comitiva norte-americana ao país em maio deste ano.

    Os especialistas em segurança pública entendem que a pressão de governadores no Brasil pelo uso de “narcoterrorista” é uma forma de alinhamento político com essas forças externas. Dessa forma, o debate é transferido do campo policial para o geopolítico. Para eles, o termo, se adotado no país, fragilizaria a democracia e aumentaria o risco de interferências internacionais.

    “Uma forma de os Estados Unidos intervirem de forma mais efetiva no nosso território é justamente apelar para o que os norte-americanos temem historicamente, principalmente depois do 11 de setembro, que é a questão do terrorismo”, diz Jonas Pacheco, coordenador de pesquisa da Rede de Observatórios da Segurança.

    “É um discurso que trata de uma questão de dominação da América Latina. Os países que têm grupos classificados como terroristas claramente não são alinhados ideologicamente com o governo Trump”, complementa.

    “O terrorismo é usado pelo presidente dos Estados Unidos para cometer execuções sumárias na costa da Venezuela e da Colômbia. Termo foi adotado pelos governos de El Salvador e Equador também. São tentativas de evadir qualquer limite legal. Leis terroristas alongam prazos de prisão provisória e diminuem garantias processuais. Mas, importante destacar, nenhuma lei antiterrorista autoriza execução sumária de pessoas”, diz Ignacio Cano.

    “Guerra às drogas”

    Outra categoria semântica muito comum entre as autoridades estaduais é o de “guerra”. As polícias militares estariam diante de conflitos semelhantes aos sofridos em outras realidades do Leste Europeu, África e Oriente Médio.

    Os cientistas políticos e sociólogos são categoricamente contrários à terminologia, por uma série de consequências simbólicas e materiais que ela produz.

    “Quando você pauta o debate na ideia de guerra, você valida ações que barbarizam todo um território. Quem é o inimigo nessa guerra? É o traficante que está na Faria Lima lavando o dinheiro? Não, é o traficante que está na favela. É o pobre e o preto que moram em territórios de extrema vulnerabilização e precarização”, diz Jonas Pacheco.
    “Segurança pública é para gerar segurança, não é para matar. Uso da força deve respeitar as devidas normativas legais. Não é um fim em si mesmo. O fim é gerar segurança. O pacto social prevê que o Estado deve garantir a preservação da vida”, complementa.

    “Sempre bom lembrar que, se a sociedade autoriza a polícia a agir sem controles e parâmetros legais, sem fiscalização do Ministério Público, todos nós estamos em risco. Se as pessoas acham que só os moradores do Alemão e da Penha vão sofrer as consequências, estão muito enganadas”, diz Ignacio Cano.

    “O objetivo é trazer a guerra para dentro das cidades. E nada melhor do que uma guerra contra o crime. Mas não se trata de combater crime nenhum. Se trata de produzir repressão e espetáculo. Se queremos resolver, temos que mudar também essa linguagem”, analisa Jacqueline Muniz.

    “Estamos falando de um projeto autoritário onde a insegurança se torna política pública. Quanto maior a insegurança, melhor para essas autoridades, porque nós somos fidelizados pelo medo. Diante da ameaça, todos nós podemos abrir mão das garantias individuais e coletivas em favor de quem possa nos proteger e, depois, nos tiranizar”, complementa.

    Especialistas criticam retórica de governadores sobre combate ao crime

  • Garimpo ilegal se apropria das reservas de manganês do Brasil, uma das maiores do mundo

    Garimpo ilegal se apropria das reservas de manganês do Brasil, uma das maiores do mundo

    Mineral é usado na fabricação de aço, mas também é cobiçado por indústrias de baterias; grandes mineradoras diminuíram operação no mercado brasileiro, tomado por extração ilegal

    SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil tem a quarta maior reserva de manganês do mundo, mas permite que garimpeiros ilegais acessem grande parte dela. Esse mineral será cada vez mais estratégico nos próximos anos, à medida que aumenta a demanda por veículos elétricos, cujas baterias são feitas desse metal.

    A Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal não divulgam dados sobre o tema, mas executivos desse mercado estimam que ao menos 30% da produção de manganês hoje no país esteja na mão desses criminosos, concentrados principalmente no sudeste do Pará, onde estão as maiores reservas do mineral no Brasil.

    O tema já é tratado como intrínseco a esse mercado. Nos bastidores, funcionários de mineradoras relatam, com frequência, invasões de garimpeiros em seus complexos e demora das forças policiais e de outros órgãos fiscalizadores em conter esses grupos.

    Um executivo de uma das maiores empresas do setor contou à Folha que a companhia teve 10% de sua reserva mineral extraída recentemente por garimpeiros que invadiram suas terras por cinco meses na região de Carajás. Já em uma outra grande mineradora, bandidos armados expulsaram vigilantes e assumiram o controle de parte da operação.

    A própria Vale é uma das principais denunciantes de invasões garimpeiras na região. De acordo com uma pessoa envolvida no dia a dia da mineradora, tais invasões chegaram a atrapalhar o andamento de projetos de manganês da empresa de 2012 a 2020, quando a companhia optou por iniciar a venda de direitos minerários para se concentrar em minério de ferro.

    Em nota, a Vale afirmou à Folha de S.Paulo que, quando descobre ocorrência de qualquer atividade de mineração ilegal, denuncia às autoridades competentes.

    A mineradora, no entanto, é alvo de pressões do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por manter seus direitos sobre reservas mesmo sem ter interesse comercial nelas. Na teoria, a regulamentação proíbe essa conduta, mas, na prática, a falta de estrutura da ANM (Agência Nacional de Mineração) dificulta a fiscalização.

    “O minério de manganês nessa região aflora na terra, então é muito fácil de percebê-lo olhando numa paisagem; com isso, a população sabe onde estão essas concentrações de manganês”, diz Igor Goettenauer, procurador da República com atuação em Marabá. “Como as pessoas sabem onde essa concentração está, há uma pressão social pelo uso dessas reservas.”

    Quase toda a produção de manganês hoje em dia vai para siderúrgicas, que usam o metal para produzir aço mais resistente. Mas consultorias de mercado estimam que a demanda por produtos refinados será cada vez maior nos próximos anos, à medida que a produção de veículos elétricos aumenta. E, com isso, o valor do manganês também deve aumentar: enquanto uma tonelada do minério de manganês destinado à siderurgia custa cerca de R$ 300, a do sulfato de manganês, destinado às baterias elétricas, é vendida por cerca de US$ 800 (R$ 4.302).

    Nas mãos de garimpeiros, no entanto, é improvável que esse manganês ganhe valor agregado no Brasil. Refinar o metal é caro, e nessas operações ilegais o produto final é o minério bruto, que não passa por processos de concentração.
    A logística dos garimpeiros de manganês costuma seguir o mesmo padrão: eles extraem o minério com máquinas e o repassam para transportadores, que o desembarcam em companhias responsáveis por vender o minério no mercado interno ou externo –a exportação geralmente é feita no porto de Barcarena. Alguns, mas não todos, tentam dar aparência de legalidade à operação, declarando que o mineral vendido foi extraído em outra região à qual eles têm direitos minerários.

    “Tudo isso é um mercado bastante lucrativo, e a parte ilícita começa a se misturar com a lícita, pois os recursos ilegais são lavados em empresas lícitas, que compram o maquinário. Geralmente são famílias que começam a se especializar nessa atividade e vão criando organizações criminosas, inclusive com especialização de funções”, diz Goettenauer, procurador da República.

    Para Charles Trocate, um dos principais ativistas da região e líder do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, essa dinâmica já faz parte do dia a dia da população de algumas cidades como Parauapebas, Curionópolis e Marabá.

    “São hipermercados e postos de gasolina da região que compram as grandes máquinas usadas pelos garimpeiros”, diz. “Houve muita operação da polícia para contê-los, mas devido à lucratividade do negócio, o crime vale a pena.”
    Na região há até bairros dominados por garimpeiros ilegais, como a Vila União, em Marabá. E o domínio vai parar na política, onde vereadores são eleitos com apoio dos próprios garimpeiros. “A política da região está ligada a esses garimpeiros, porque são eles que dominam partidos aqui”, afirma Trocate.

    Samir Chamon, por exemplo, irmão do influente deputado estadual Chamonzinho (MDB) e filho de um secretário do governador Helder Barbalho, foi preso em 2020 sob suspeita de envolvimento com garimpos da região. Hoje, ele responde a processos na Justiça Federal.

    À Folha de S.Paulo, Samir, que é dono de uma empresa de mineração, disse por nota que sua prisão foi “injusta e equivocada por ter se valido de evidências frágeis e informações incorretas.” Segundo ele, seus negócios sempre foram realizados de forma legal, gerando empregos e contribuindo para o desenvolvimento do Pará. Já o deputado Chamonzinho não respondeu aos questionamentos até a publicação desta reportagem.

    MERCADO LEGAL VEM DIMINUINDO

    Em contrapartida ao garimpo ilegal, a presença de grandes mineradoras no mercado de manganês no Brasil vem caindo tanto por questões econômicas quanto por exaustão das principais minas de grande porte.

    A Vale, que detinha a maior parte das reservas desse mineral, parou de extrair manganês em suas operações em Carajás e vendeu em 2022 suas operações em Mato Grosso do Sul para a J&F Investimentos, dos irmãos Batista. Já a Buritirama, a maior mineradora de manganês da América do Sul, entrou em falência em 2023 e hoje é operada por credores, por meio da Geribá Investimentos.

    Segundo o Sumário Mineral Brasileiro, o país chegou a produzir mais de três milhões de toneladas de manganês contido em 2008. No ano passado, por outro lado, foram 537 mil toneladas.

    Hoje, a maior parte da produção fica por conta da Buritirama e da LHG mining, dos irmãos Batista -essa última, no entanto, foca a extração de minério de ferro. Já outras mineradoras, com escala muito menor, continuam operando.

    A RMB, por exemplo, quer produzir em Carajás 400 mil toneladas de manganês. Os investimentos somam R$ 240 milhões e, para isso, a mineradora é uma das empresas que buscam recursos do BNDES voltado para minerais críticos. A empresa tem planos de produzir, em um primeiro momento, concentrado de manganês e, em seguida, sulfato de manganês agrícola e sulfato de manganês com grau de baterias.

    O garimpo ilegal, no entanto, é um entrave, segundo Samuel Borges, CEO da RMB. “Eles entram na nossa área desde 2016; estamos falando de 30 mil hectares e, de toda a reserva do projeto, cinco milhões de toneladas já foram extraídas de forma ilegal. Nós só temos como prerrogativa denunciar e esperar que as autoridades cumpram seus papéis”, diz.

    Garimpo ilegal se apropria das reservas de manganês do Brasil, uma das maiores do mundo

  • Toffoli muda voto e segue Gilmar para tirar da prisão ex-diretor da Petrobras

    Toffoli muda voto e segue Gilmar para tirar da prisão ex-diretor da Petrobras

    Em setembro do ano passado, a petição de Duque havia sido negada por Toffoli, mas na sequência a defesa entrou com um agravo regimental (tipo de recurso), que começou a ser julgado nesta sexta-feira (31).

    CATARINA SCORTECCI
    BRASÍLIA, DF (CBS NEWS) – O ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu mudar seu voto em relação a um recurso apresentado pela defesa de Renato Duque e passou a defender a anulação de todos os processos derivados da Operação Lava Jato contra o ex-diretor da Petrobras.

    Duque cumpre pena na prisão desde agosto de 2024.

    Em setembro do ano passado, a petição de Duque havia sido negada por Toffoli, mas na sequência a defesa entrou com um agravo regimental (tipo de recurso), que começou a ser julgado nesta sexta-feira (31).

    O prazo para todos os cinco ministros da turma se manifestarem termina dia 10 de novembro. O recurso é analisado pela Segunda Turma em sessão virtual (quando não há debate em plenário físico e os ministros apenas inserem seus votos no sistema do STF).
    A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Duque neste domingo (2). O caso tramita de forma sigilosa no STF.

    Já há dois votos a favor de Duque, que pede que a corte reconheça o conluio do ex-juiz Sergio Moro com os integrantes do Ministério Público Federal na condução dos seus processos e na colheita de provas contra ele.

    Outras dezenas de alvos da Lava Jato já tiveram seus processos anulados a partir do reconhecimento do conluio. O MPF e Moro, hoje senador pelo União Brasil, negam ilegalidades.

    Na primeira análise do recurso, em outubro do ano passado, Toffoli votou contra Duque e colocou o caso para manifestação dos demais integrantes da Segunda Turma. Mas o ministro Gilmar Mendes pediu vista (mais tempo para análise) e o recurso ficou sem julgamento por um ano.

    Nesta sexta-feira (31), Gilmar liberou seu votou e defendeu a nulidade de todos os atos praticados por Moro e pelos integrantes do MPF em desfavor de Duque, seja na fase pré-processual ou no curso das ações penais que tramitaram no âmbito da 13ª Vara Federal de Curitiba, mantendo apenas os efeitos do acordo de colaboração premiada firmado pelo réu. Também votou para determinar a revogação imediata da prisão.

    Logo em seguida, Toffoli mudou de ideia e passou a concordar com a defesa de Duque. Disse que a nova decisão foi tomada a partir da análise do voto de Gilmar.

    Segundo Gilmar, assim como outros réus, Duque foi submetido a “procedimentos ilegais, abusivos e corrosivos das garantias do devido processo legal, do juiz natural e da imparcialidade exigida em todo e qualquer julgamento”.

    “Destaque-se que o réu é descrito, nas denúncias oferecidas pelo MPF, como elo de ligação e pessoa da estrita confiança de políticos e membros da alta cúpula do Partido dos Trabalhadores. É em virtude deste vínculo, inclusive, que o agravante passou a ser objeto das medidas abusivas descritas nesta petição, as quais possuíam objetivos políticos claros e bem definidos por parte dos membros do Ministério Público e do Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba”, escreve Gilmar.

    Os outros três ministros da turma (Luiz Fux, Kassio Nunes Marques e André Mendonça) ainda não tinham se manifestado até a manhã deste domingo (2).

    Duque está preso desde 17 de agosto de 2024. Em 12 de julho daquele ano, a juíza substituta Carolina Moura Lebbos, da 12ª Vara Federal de Curitiba, determinou que o ex-diretor da Petrobras voltasse para a prisão. De acordo com a magistrada, ele ainda deveria cumprir uma pena privativa de liberdade de 39 anos, 2 meses e 20 dias, em regime fechado.

    A pena se refere a quatro condenações que já transitaram em julgado, ou seja, quando não há mais possibilidade de recurso, e envolve crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

    O tempo já considera descontos a título de detração e remição, referentes ao período em que ficou preso preventivamente. Ele teve duas passagens pela prisão: em novembro e dezembro de 2014; e de março de 2015 até março de 2020. Depois, usou tornozeleira eletrônica até abril de 2023.

    Duque foi um dos mais longevos presos da Operação Lava Jato, deflagrada em 2014. Ao longo do período de prisão, ele se propôs a colaborar com o MPF, confessou ter cometido crime e aceitou abrir mão de R$ 100 milhões em contas no exterior. Também fez acusações contra o hoje presidente Lula (PT).

    Na época, Lula divulgou uma nota afirmando que o relato de Duque era “mais uma tentativa de fabricar acusações” em troca de redução de pena na Lava Jato.

    Toffoli muda voto e segue Gilmar para tirar da prisão ex-diretor da Petrobras

  • Lula volta para a defensiva com operação no Rio e sofre ataque em redes, Congresso e estados

    Lula volta para a defensiva com operação no Rio e sofre ataque em redes, Congresso e estados

    A ação de terça-feira (28) no Rio de Janeiro se tornou a mais letal da história do país, com 121 mortes, e fez Lula tomar atitudes até então inusitadas no campo da esquerda, em uma movimentação embalada pela apreensão entre aliados com os efeitos sobre a imagem de sua gestão.

    RANIER BRAGON E VICTORIA AZEVEDO
    BRASÍLIA, DF (CBS NEWS) – A segurança pública, tema em que a esquerda costuma patinar, foi alçada à prioridade das discussões do governo Lula (PT) com a crise decorrente da megaoperação contra a facção Comando Vermelho, recolocando o petista na defensiva.

    A ação de terça-feira (28) no Rio de Janeiro se tornou a mais letal da história do país, com 121 mortes, e fez Lula tomar atitudes até então inusitadas no campo da esquerda, em uma movimentação embalada pela apreensão entre aliados com os efeitos sobre a imagem de sua gestão.
    Pesquisa Datafolha mostrou que a operação foi vista como um sucesso por 57% dos moradores da capital e da região metropolitana do Rio, contra 39% que pensam o contrário.

    A operação patrocinada pelo governo do oposicionista Claudio Castro (PL) deixou em segundo plano, no campo político, assuntos até então na ordem do dia, como as negociações em torno do tarifaço de Donald Trump.

    Mais do que isso, reunificou o discurso da direita -até então abalada pelas ações de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos e a condenação de Jair Bolsonaro (PL).

    Além disso, interrompeu um ciclo de boas notícias para o Palácio do Planalto, que esperava pautar a campanha em busca de um quarto mandato de Lula com bandeiras como a defesa da soberania e da justiça tributária.

    Destoando da reação histórica da esquerda a esse tipo de ação, Lula não criticou ou questionou publicamente a operação policial e evitou falar diretamente sobre o caso, o que deixou eventuais manifestações alusivas a “chacina” e “massacre” para a esquerda no Congresso, em especial o PSOL.

    Havia uma expectativa de que Lula usasse evento de posse de Guilherme Boulos na Secretaria-Geral da Presidência, na quarta (29), para abordar o tema -o que não ocorreu. Na ocasião, houve um minuto de silêncio pelas vítimas da operação.

    O petista só quebrou o silêncio à noite, numa publicação nas redes sociais, em que falou em “trabalho coordenado” contra o tráfico de drogas que atinja a espinha dorsal do crime “sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco.”

    Um aliado de Lula diz que essa estratégia foi pensada justamente para evitar qualquer outro tipo de fala do presidente que pudesse ser usada por opositores para desgastá-lo.

    Tão inusual quanto a ausência de questionamentos à ação policial foi o fato de o governo exaltar nas redes sociais para a sanção, por Lula, do projeto que prevê pena de prisão para quem planeja ataque ou ameaça contra autoridades que combatem o crime organizado.

    Além de a esquerda quase sempre dizer que propostas de endurecimento da legislação penal não resolvem a criminalidade, o projeto em questão é de autoria do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), responsável pelas condenações e prisão de Lula quando era juiz.

    “É mais um passo no combate ao crime com inteligência, integração e punição. Governo do Brasil, do lado do povo brasileiro, contra o crime organizado”, diz a peça, sem citar o ex-juiz.

    Lula já havia derrapado no tema da segurança pública ao chamar traficantes de vítimas -diante da repercussão, ele depois se retratou. A frase o levou a voltar ao foco da direita nas redes, sob o discurso de que ele e a esquerda defendem bandidos. Os ataques se intensificaram após a ação no Rio.

    “Não dá mais para tratar o criminoso como vítima. O criminoso não é vítima, o criminoso faz vítima”, disse o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), principal nome cotado para enfrentar Lula no ano que vem, em postagem sobre a reunião com governadores para tratar sobre o Rio, com mais de 3 milhões de visualizações até esta sexta-feira (31).

    Apesar de a segurança pública ser um tema de competência dos estados, há uma avaliação entre integrantes do governo Lula de que essa crise poderá frear a maré favorável dos últimos meses ao petista.

    Em meio às discussões sobre a reação mais adequada, aliados cobraram celeridade na tramitação de projetos enviados pelo Executivo que ainda não tinham sido chancelados, como a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Segurança Pública.

    A megaoperção no Rio serviu também de oportunidade para governadores de direita, alguns deles pré-candidatos ao Planalto, novamente tentarem fustigar o petista. Na quinta (30), eles se reuniram no Rio para demonstrar apoio a Castro.

    Em discursos com tom de campanha eleitoral antecipada, anunciaram a criação de um grupo que chamaram de “Consórcio da Paz”, que reunirá os chefes dos Executivos estaduais em torno de ações de combate ao crime organizado.

    Entre aliados de Lula, a reação foi de críticas às reais motivações dessa união. Boulos e a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) disseram que o grupo atua para colocar o Brasil no radar de intervenções do governo Trump, num incentivo à ofensiva do americano contra a soberania brasileira.

    Nos bastidores, um auxiliar do petista diz avaliar que a operação no Rio é uma espécie de tábua de salvação da direita, que estava acuada nos últimos meses. Ele reconhece que esse fato gerou uma oportunidade para unir os governadores numa tentativa deles se descolarem da figura de Bolsonaro.

    Apesar de reconhecer possíveis efeitos negativos para o governo federal, esse aliado diz avaliar que o tema da segurança pública, por mais relevante que seja, não é, sozinho, determinante em resultados eleitorais.

    Nas redes, a estratégia do governo será apostar no discurso de que está promovendo alterações no sentido de vencer o crime pela inteligência e não à bala, fazendo referências frequentes à Operação Carbono Oculto, em São Paulo, que contou com a atuação integrada da Polícia Federal, da Polícia Militar de São Paulo, do Ministério Público Federal e da Receita Federal, e identificou a infiltração do PCC no setor de combustíveis.

    Um dirigente do PT diz que o partido encomendou duas pesquisas para entender o sentimento dos brasileiros em relação à megaoperação, uma presencial e outra digital. Ele afirma que o partido deverá ser objetivo no enfrentamento da narrativa da oposição, mas sem se estender na temática.

    Lula volta para a defensiva com operação no Rio e sofre ataque em redes, Congresso e estados