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  • Trump espera que a China quadruplique os pedidos de soja dos EUA

    Trump espera que a China quadruplique os pedidos de soja dos EUA

    Donald Trump afirmou que espera ver a China quadruplicar rapidamente as importações de soja dos Estados Unidos. Segundo o presidente, a medida ajudaria a reduzir o déficit comercial entre os países e atenderia à preocupação chinesa com a escassez do grão

    O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizou que o país pode exportar mais soja para a China. A expectativa é que o país asiático “rapidamente quadruplique seus pedidos de soja”.

    “A China está preocupada com sua escassez de soja. Nossos grandes agricultores produzem a soja mais robusta. Espero que a China rapidamente quadruplique seus pedidos de soja. Esta também é uma forma de reduzir substancialmente o déficit comercial da China com os EUA. Um serviço rápido será fornecido. Obrigado, Presidente Xi”, escreveu o republicano na rede Truth Social, na madrugada desta segunda-feira, 11.

    Trump espera que a China quadruplique os pedidos de soja dos EUA

  • Ratinho Jr. aposta em obras e privatizações e enfrenta desgaste na área ambiental

    Ratinho Jr. aposta em obras e privatizações e enfrenta desgaste na área ambiental

    Ratinho quer ser lembrado pelo eleitorado por grandes obras de infraestrutura no litoral, como o alargamento da faixa de areia nas praias de Matinhos e a construção da ponte de Guaratuba, prevista para ser entregue em abril de 2026, período em que ele possivelmente se afastará do cargo

    (CBS NEWS) – Nome cotado para concorrer ao Planalto nas eleições de 2026, Ratinho Junior (PSD) chega à reta final do seu segundo mandato no Governo do Paraná com uma gestão até aqui marcada por privatizações, como a venda do controle acionário da Copel (Companhia Paranaense de Energia), e a incorporação de pautas bolsonaristas, como as escolas cívico-militares.

    Ratinho também quer ser lembrado pelo eleitorado por grandes obras de infraestrutura no litoral, como o alargamento da faixa de areia nas praias de Matinhos e a construção da ponte de Guaratuba, prevista para ser entregue em abril de 2026, período em que ele possivelmente se afastará do cargo, caso mantenha interesse na disputa eleitoral.

    As obras no litoral renderam embates com o Ministério Público e críticas de entidades ligadas ao meio ambiente, área de maior desgaste de Ratinho ao longo dos mandatos.

    Um projeto de lei flexibilizando e simplificando o licenciamento ambiental, por exemplo, foi aprovado no Paraná meses antes de proposta semelhante receber aval do Congresso Nacional -com 63 pontos vetados nesta sexta-feira (8) pelo presidente Lula (PT).

    Na briga travada com o Ministério Público, Ratinho tem obtido vitórias no campo judicial.

    A mais recente liberou outro projeto no litoral, a chamada Faixa de Infraestrutura, que é um conjunto de obras formado por uma rodovia de quase 25 km, um gasoduto e um ramal ferroviário. A faixa ficaria paralela à PR-412 e seria uma conexão direta para um porto privado ainda em construção em Pontal do Paraná.

    Entre outras contestações à megaobra, o Ministério Público cita grande derrubada da Mata Atlântica e aponta ausência de consulta às comunidades tradicionais e indígenas diretamente impactadas.

    Apesar da polêmica, o governador segue blindado por uma ampla base aliada na Assembleia Legislativa, contemplada com cargos na administração, e favorecido por uma bancada oposicionista miúda, com seis deputados petistas e dois filiados ao PDT, em uma Casa com 54 assentos.

    Mesmo com a base numerosa, o Executivo costuma pedir regime de urgência nas votações de seu interesse. O mecanismo que acelera o trâmite dos projetos de lei e reduz o debate é imposto pelos deputados governistas em textos com potencial para gerar algum desgaste a Ratinho.

    A legislação que permitiu a alteração no controle da Copel -a participação do estado na empresa passou de 31% para 16%- foi aprovada na Assembleia em menos de uma semana, no final de 2022.

    Até o primeiro trimestre de 2026, Ratinho quer concluir o processo de desestatização da Celepar, primeira empresa pública de tecnologia da informação do país. Também pretende vender a Ferroeste, empresa criada no final da década de 1980 e que hoje administra a ferrovia entre Guarapuava e Cascavel.

    O governador ainda aposta em parcerias com setores empresariais, inclusive na área da educação, em que tem propagandeado a pontuação no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) -em 2023, as redes estaduais de ensino médio do Paraná e do Espírito Santo ficaram na segunda melhor posição do país, atrás de Goiás.

    Em junho de 2024, a Assembleia Legislativa aprovou a possibilidade da transferência da parte administrativa dos colégios públicos estaduais para o setor privado, o que gerou um dos momentos mais delicados deste segundo mandato -após um primeiro governo consumido pela crise hídrica e pelos efeitos da pandemia de Covid-19, avaliam aliados.

    Batizada pelo governo Ratinho de Programa Parceiro da Escola, a ideia foi o estopim para um movimento grevista capitaneado pela APP-Sindicato, a entidade que representa os professores e funcionários da educação e que é conhecida pela forte capilaridade.

    Um dos protestos terminou em confusão na Assembleia, após a multidão forçar a entrada na Casa. Na esteira disso, a PGE (Procuradoria Geral do Estado) chegou a pedir a prisão da presidente da APP-Sindicato, Walkiria Mazeto. O pedido da gestão Ratinho classificou a mobilização dos professores como “atos antidemocráticos” e “terrorismo”. A Justiça estadual abriu negociações entre as partes.

    Na mesma época, a Secretaria da Educação enviou um polêmico vídeo sem assinatura para o celular de pais de alunos em que atacava o movimento grevista dos professores. Os disparos em massa partiram do mesmo número usado pela pasta para comunicados oficiais.

    Ainda na área educacional, a gestão Ratinho também abraçou o modelo de escola cívico-militar proposto pelo governo federal em 2019, pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL). Hoje ele é adotado em mais de 300 colégios no Paraná.

    Na área da segurança pública, também há aceno de Ratinho ao eleitorado bolsonarista. O governador diz querer o endurecimento de penas e faz a defesa da autonomia dos estados para legislar sobre o tema.

    O Anuário de Segurança Pública 2025 mostrou que o Paraná teve no ano passado uma taxa de violência letal de 18,4 mortes intencionais para cada grupo de 100 mil habitantes, menor do que a média brasileira (20,8), mas pior na comparação com os demais estados da região Sul. O Rio Grande do Sul, com tamanho populacional semelhante, teve uma taxa de 15.

    Além disso, o Paraná ficou dentro do grupo de 21 estados que apresentaram redução geral na taxa de violência letal na comparação com 2023, mas a fatia das mortes por intervenção policial cresceu de 15,1 para 18,4.

    Alguns temas mais espinhosos da pauta bolsonarista são geralmente driblados pelo governador, que, ao longo dos mandatos, tem respondido a questionamentos sobre falas e atos do ex-presidente de forma genérica.

    Ele diz ser “contra a brigaiada” e afirma que está concentrado em criar um ambiente de paz para investimentos no estado.

    Na avaliação de aliados, a postura de Ratinho revela estilo prático, com capacidade para diálogo com diferentes políticos. Já a oposição vê uma retórica irresponsável quanto aos rumos do país.

    “Ratinho Jr. foi solidário a Bolsonaro. Natural, são aliados. O que não dá para engolir é o governador taxar de ‘briga que não leva a nada’ o momento político e econômico mais delicado dos últimos tempos. Até onde vai a falta de comprometimento com o país?”, criticou o deputado federal Tadeu Veneri (PT) em resposta a uma declaração do governador em uma rede social, após a prisão domiciliar do ex-presidente.

    Pesquisa Datafolha sobre as eleições presidenciais do ano que vem apontou Ratinho com 40% das intenções de voto em um eventual segundo turno contra Lula (PT), que aparece com 45%. O desempenho do paranaense é semelhante ao do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que obteve 41% contra o atual presidente no mesmo cenário.

    Ratinho Jr. aposta em obras e privatizações e enfrenta desgaste na área ambiental

  • Veja como recuperar dinheiro e benefícios após a morte de um parente

    Veja como recuperar dinheiro e benefícios após a morte de um parente

    Um levantamento da plataforma Planeje Bem, especializada em planejamento sucessório, mostra que, nos seis primeiros meses de 2025, herdeiros deixaram de recuperar, em média, até R$ 50 mil em valores deixados por parentes.

    Quando alguém morre, pode deixar para trás recursos que muitas vezes passam despercebidos pelos familiares — como seguros de vida, saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), cotas do PIS/Pasep (para quem trabalhou formalmente de 1971 a 1988) e até indenizações de auxílio-funeral. Esses valores, chamados de ativos invisíveis, existem, mas deixam de ser resgatados por falta de informação.

    Um levantamento da plataforma Planeje Bem, especializada em planejamento sucessório, mostra que, nos seis primeiros meses de 2025, herdeiros deixaram de recuperar, em média, até R$ 50 mil em valores deixados por parentes. O estudo, feito com mais de cem atendimentos, apontou que cerca de 70% dos casos envolvem homens — em geral filhos, netos ou sobrinhos que não participavam da rotina financeira do falecido.

    No momento da perda, a prioridade costuma ser o funeral. Depois, muitos voltam à rotina e não vão atrás dos direitos — afirma Carolina Aparicio, diretora executiva da Planeje Bem.

    A falta de informação e a desorganização de documentos dificultam o processo. Contratos, apólices e comprovantes são essenciais para acessar previdência privada, seguro de vida empresarial, saldo do FGTS e cotas do PIS/Pasep. Para evitar a perda, a advogada Laura Brito, especialista em Direito de Família e Sucessões, recomenda que os documentos fiquem organizados em uma pasta única, junto de certidões, declaração de Imposto de Renda, contratos e informações sobre investimentos e contas bancárias.

    A advogada Maria Pia Bastos-Tigre, de 46 anos, passou por essa experiência em 2019, quando o avô faleceu. Só depois descobriu que ele tinha seguro de vida, conta bancária e ações — nenhum desses bens constava na declaração de IR.

    Tivemos que revirar papéis e acessar diferentes instituições para encontrar cada valor — lembra.

    Após a experiência, Maria mudou a abordagem com a própria família e passou a conversar mais sobre planejamento sucessório.

    Laura Brito reforça que evitar o assunto por medo ou superstição é prejudicial:

    É um ato de cuidado com quem fica. Além dos documentos, é importante registrar onde estão aplicados os recursos.

    Herança digital

    Além de bens físicos, heranças podem incluir milhas, arquivos em nuvem, redes sociais, senhas e criptoativos — a chamada herança digital. O Projeto de Lei 4/2025, em tramitação no Senado, pretende atualizar o Código Civil para definir o que pode ser acessado e por quem. Especialistas alertam que, mesmo com testamento, termos de uso de plataformas podem impedir o acesso.

    — Há questões patrimoniais e de privacidade — explica Laura.

    Onde buscar valores esquecidos

    RHs e sindicatos: podem informar sobre seguros e benefícios trabalhistas.

    Contas bancárias: o site do Banco Central (valoresareceber.bcb.gov.br) indica saldos esquecidos.
    Seguros de vida: consulta disponível no site da CNseg, com certidão de óbito.

    Pensão: solicitação no site ou app Meu INSS, com documentos de vínculo e óbito.

    DPVAT: para acidentes até 31/12/2023, pedidos devem ser feitos à Caixa Econômica Federal.

    Cartões: muitos incluem seguros e auxílio-funeral; consulte o banco.

    Veja como recuperar dinheiro e benefícios após a morte de um parente

  • Lula fará reunião com Alckmin sobre medidas a setores afetados por tarifaço

    Lula fará reunião com Alckmin sobre medidas a setores afetados por tarifaço

    Alckmin participaria nesta segunda-feira do lançamento do Programa de Qualificação para Exportação (Peiex), em São Paulo, mas o evento foi adiado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) devido à convocação da reunião no Palácio do Planalto por Lula

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne com o vice e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, nesta segunda-feira às 17h. Há a expectativa de que o presidente delibere sobre o pacote de medidas de apoio a setores afetados pelas tarifas de 50% impostas pelo governo dos Estados Unidos a produtos brasileiros.

    Alckmin participaria nesta segunda-feira do lançamento do Programa de Qualificação para Exportação (Peiex), em São Paulo, mas o evento foi adiado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) devido à convocação da reunião no Palácio do Planalto por Lula. Na semana passada, o vice-presidente disse que a decisão sobre as medidas seria anunciada até a próxima terça-feira, 12.

    Mais cedo, o presidente abre a semana com a costumeira reunião às 9h com o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, e o secretário de imprensa, Laércio Portela. Às 9h30, Lula recebe a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.

    Às 14h40, o presidente despacha com o secretário especial para assuntos jurídicos da Casa Civil, Marcos Rogério de Souza, e às 15h participa Cerimônia de entrega do Prêmio MEC da Educação Brasileira, também no Palácio do Planalto.

    Lula fará reunião com Alckmin sobre medidas a setores afetados por tarifaço

  • Sanção de Trump extrapola Moraes e coloca STF sob pressão inédita

    Sanção de Trump extrapola Moraes e coloca STF sob pressão inédita

    Antes da aplicação da Lei Magnitsky, o governo americano já havia proibido a entrada de Moraes e de outros ministros do STF nos Estados Unidos. Na sequência, anunciou o tarifaço de 50% a produtos brasileiros, este também associado ao julgamento de Bolsonaro na corte

    (CBS NEWS) – Embora voltada ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a aplicação da Lei Magnitsky pelos EUA extrapola o magistrado e gera tensão inédita na corte e no Poder Judiciário, avaliam especialistas ouvidos pela Folha.

    Eles também falam em ataque à soberania e projetam que a medida não deve mudar o comportamento do Supremo na ação penal que julga a tentativa de golpe de 2022 -liderada, segundo a PGR (Procuradoria-Geral da República), pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

    O governo do presidente Donald Trump aplicou contra Moraes sanções econômicas via Lei Magnitsky, legislação do país voltada a violadores de direitos humanos e líderes acusados de corrupção.

    Ao anunciar a medida, no final de julho, os EUA afirmaram que Moraes usou sua posição de magistrado para “autorizar detenções arbitrárias” e “suprimir a liberdade de expressão”.

    Antes da aplicação da Lei Magnitsky, o governo americano já havia proibido a entrada de Moraes e de outros ministros do STF nos Estados Unidos. Na sequência, anunciou o tarifaço de 50% a produtos brasileiros, este também associado ao julgamento de Bolsonaro na corte.

    Na última quinta-feira (7) a embaixada dos Estados Unidos afirmou em publicação nas redes sociais que “aliados de Moraes no Judiciário e em outras esferas” também podem ser punidos.

    Logo após a aplicação da Magnitsky, o Supremo lançou nota de apoio ao magistrado. No comunicado, a instituição ressaltou que “não se desviará do papel de cumprir a Constituição e as leis do país” e que o julgamento de crimes como os imputados ao ex-presidente é de exclusiva competência da Justiça.

    O recado também foi dado durante sessão de abertura do semestre do Judiciário, quando prevaleceu o discurso sobre a independência da Justiça brasileira.

    A reação pública dos ministros da corte de apoio a Moraes foi, porém, abalada depois que o magistrado decretou de ofício, no início deste mês, a prisão domiciliar de Bolsonaro.

    Segundo o juiz, Bolsonaro desrespeitou medida cautelar que o proibia de usar as redes sociais ao participar de manifestações por intermédio de terceiros.

    A prisão domiciliar renovou à máxima potência o esforço pelo impeachment do ministro vindo de bolsonaristas, que chegaram a se amotinar no Congresso.

    Também parte dos ministros do STF desaprovaram a medida, embora alguns deles, como Gilmar Mendes, tenham mantido apoio público às ações do magistrado.

    Para Diego Nunes, professor de direito da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a decisão inédita de aplicar a lei Magnitsky contra uma autoridade brasileira não deve concretamente interferir no julgamento de Bolsonaro.

    A avaliação do especialista vai em direção à manifestação de magistrados da corte ouvidos pela Folha. Eles refutam a ideia de que as sanções interfiram na ação penal e falam na possibilidade de o julgamento ser permeado por discurso de soberania.

    Nunes classifica o episódio como uma tentativa internacional de descrédito da Justiça brasileira. Para o especialista, os Estados Unidos aplicaram mal a legislação, que foi desenhada para punir ditadores, traficantes e terroristas.

    “Eventualmente pode-se discordar de uma ou outra decisão de Moraes, mas elas não acarretaram graves violações de direitos humanos e muito menos se referem a atos de corrupção”, diz.

    Adriana Cecilio, que é especialista e mestre em direito constitucional, também classifica a sanção como ataque ao Poder Judiciário. Ela lembra que as decisões de Moraes têm sido respaldadas pela própria corte e que não cabe ao presidente de outro país se imiscuir nas decisões do STF.

    “Sancionar Moraes pela atuação em um processo em que outros ministros e a própria corte estão atuando é agir contra a instituição e, por conseguinte, contra o Estado brasileiro”, diz.

    Para Cecilio, aqueles que consideram haver irregularidades na conduta do juiz precisam tentar seu impeachment via Congresso.

    “Atuar no exterior contra o Estado brasileiro é gravíssimo”, diz. “O processo de impeachment, devidamente fundamentado, é o único caminho jurídico-político autorizado pela nossa Constituição nos casos em que se quer afastar um ministro”.

    Álvaro Palma de Jorge, professor da FGV Direito Rio especialista em tribunais superiores, considera que o STF vai precisar de tempo para refletir sobre o contexto inédito de pressão.

    “Essa é uma decisão que procura sancionar alguém que está agindo no âmbito das competências do Poder Judiciário do Brasil. Portanto, vai além de uma sanção pessoal a Moraes”, afirma.

    “Parece configurar uma discussão mais ampla sobre como a legislação estrangeira pode ser usada para penalizar as decisões que são tomadas em outro país.”

    Nesse sentido, a sanção extrapola Moraes para atingir a Justiça e a soberania nacional, afirma o professor. Ele entende que a medida respinga em outras instituições, como a PGR e a Polícia Federal, e pode atingir outros agentes públicos.

    “E se amanhã ela [Lei Magnitsky] for aplicada ao presidente da Câmara ou da República? “, questiona.

    O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou em nota no fim de julho que não se pode “apoiar nenhum tipo de sanção por parte de nações estrangeiras dirigida a membros de qualquer Poder constituído da República”.

    Na ocasião, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado e do Congresso Nacional, disse que o Legislativo não admitirá interferência nos Poderes.

    “Reafirmo a confiança no fortalecimento das nossas instituições, entre elas o Poder Judiciário, elemento essencial para a preservação da soberania nacional, que é inegociável. O Congresso Nacional não admite interferências na atuação dos nossos Poderes.”

    Já o presidente Lula (PT) chamou de inaceitável a interferência dos Estados Unidos e afirmou que Moraes é “alvo de sanções motivadas pela ação de políticos brasileiros que traem nossa pátria e nosso povo em defesa dos próprios interesses”.

    Sanção de Trump extrapola Moraes e coloca STF sob pressão inédita

  • Gigantes da Bolsa conseguem amortecer impacto do tarifaço, mas empresas menores sangram

    Gigantes da Bolsa conseguem amortecer impacto do tarifaço, mas empresas menores sangram

    Levantamento da Elos Ayta Consultoria mostra que, das 20 maiores quedas de ações listadas na B3 e pertencentes a algum índice (Ibovespa, Small Cap ou Dividendos) desde 9 de julho, quando o presidente Donald Trump anunciou a sobretaxa de 50%, 17 fazem parte do índice Small Cap

    (FOLHAPRESS) – O tarifaço promovido pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros pode afetar diversas empresas listadas na Bolsa de Valores. Porém, enquanto gigantes como Marfrig conseguem driblar a sobretaxa de 50%, empresas menores, chamadas de small caps, como Jalles Machado, Recrusul e Taurus, são mais impactadas.

    Levantamento da Elos Ayta Consultoria mostra que, das 20 maiores quedas de ações listadas na B3 e pertencentes a algum índice (Ibovespa, Small Cap ou Dividendos) desde 9 de julho, quando o presidente Donald Trump anunciou a sobretaxa de 50%, 17 fazem parte do índice Small Cap.

    Small caps são companhias listadas em Bolsa, mas com baixa capitalização. Elas são bem menores que as blue chips, como Petrobras e Vale -a Jalles Machado, por exemplo, tem R$ 965 milhões de valor de mercado, enquanto a capitalização da Marfrig é de R$ 18,6 bilhões.

    O valor de mercado reflete a maior capilaridade da Marfrig, que também acessa os EUA por meio de suas subsidiárias no Uruguai e na Argentina. Além disso, está presente em próprio solo norte-americano com a National Beef.

    Ao todo, o volume vendido aos Estados Unidos em 2025 foi de 27 mil toneladas. Apenas 7.000 são brasileiras, o que representa 0,18% do total de vendas da empresa.

    “Nossas operações no Brasil continuam normalmente, sem interrupções nas linhas de produção e em plena capacidade, sem impactos na receita e na rentabilidade”, afirmou a empresa.

    Com um impacto tão inexpressivo na companhia, suas ações tiveram uma leve queda de 1,4% desde o anúncio do tarifaço, em linha com a desvalorização do Ibovespa, de 1,14%.

    Outro ponto que favorece os papéis da Marfrig no momento é a fusão com a BRF. Segundo analistas, a operação é mais benéfica para o frigorífico do que para a dona da Sadia e Perdigão, que tem sofrido na Bolsa.

    Já a Minerva consegue acessar o mercado norte-americano por meio de suas operações na Argentina, no Paraguai, no Uruguai e na Austrália. Ao todo, os EUA representam cerca de 16% da receita do frigorífico. As carnes do Brasil, especificamente, são 30% dessa exposição. Ou seja, a sobretaxa recairia sobre 5% da receita líquida. Com um impacto maior, as ações do frigorífico tiveram uma queda proporcional, de 8%.

    Essa estratégia de levar a exportação para outro país antes dos EUA, de modo a evitar a sobretaxa, se chama triangulação e será um bote salva-vidas para muitas empresas.

    No caso da empresa de açúcar e etanol Jalles Machado, cuja produção se concentra em Goiás e Minas Gerais, o impacto é maior, o que levou as ações a ceder 15,5%.

    Além do salto no imposto, joga contra as empresas do setor o baixo nível dos preços internacionais de açúcar, nas mínimas dos últimos quatro anos.

    O cenário pesa também sobre a Raízen e sua subsidiária Cosan, umas das exceções dentre as blue chips. Seus papéis despencaram 23% e 13,6%, respectivamente.

    As tarifas e a queda nos preços de açúcar vêm em um momento de alto endividamento da companhia, que atingiu seu pior patamar desde a entrada na Bolsa, em 2021, conforme levantamento da Elos Ayta, que mostrou que seria preciso que a empresa fosse três vezes maior, em patrimônio, para o pagamento de sua dívida. No quarto trimestre de 2024, a dívida líquida da Raízen foi de R$ 54,8 bilhões.

    Outro setor afetado pela taxação de Trump é o de veículos pesados, impactando as ações de Recrusul, Randon, Frasle, Tupy e JSL. Esta última, apesar de ser uma empresa de logística, também faz a revenda de caminhões no ramo de seminovos, que pode sofrer com uma maior oferta no mercado interno.

    Já a Tupy tem 20% de receita exposta aos EUA, aponta Aline Cardoso, diretora de Research do Santander. Porém, com unidades no México, a companhia pode transferir a produção e evitar a sobretaxa.

    “Além disso, esses contratos têm um repasse automático. E ela é a única fornecedora de bloco de motores para os seus clientes, o que lhe dá bastante poder de precificação”, diz Aline.

    Também dentro da taxação, mas fora de um índice da B3, a Taurus teve uma das desvalorizações mais expressivas. As ações da fabricante brasileira de armas e munições despencaram 31,75% desde 9 de julho. Para mitigar os efeitos da política de Trump, a fabricante pretende reforçar sua operação na unidade dos EUA, que representa 82,5% do seu faturamento.

    Já na outra ponta da Bolsa, não é possível destacar vencedores do tarifaço, dizem especialistas.

    “Grande parte dos retornos observados na lista [de maiores altas e baixas na Bolsa] revela que o impacto direto das tarifas foi limitado. As variações de desempenho das ações estão, em sua maioria, ligadas a outros fatores específicos de cada empresa”, afirma João Daronco, analista da Suno Research.

    Daronco cita a alta de 11,7% da Fleury como exemplo, já que o papel foi impulsionado pela possível oferta de aquisição por parte da Rede D’Or.

    Ainda pesa sobre os papéis a temporada de balanços referentes ao segundo trimestre. No caso da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), a queda de 27% aconteceu quase que inteiramente após o resultado da companhia vir abaixo das expectativas.

    “Para a CBA, os EUA representaram 4% da receita da empresa em 2024. Então, ela consegue redirecionar [a produção] facilmente, e o impacto da sobretaxa é desprezível”, diz Aline, do Santander.

    O efeito das taxas adicionais também é irrelevante para a economia brasileira. A XP estima que o PIB (Produto Interno Bruto) terá uma queda de 0,02% com a medida.

    Dessa forma, a corretora não vê a necessidade de ajustes relevantes nas carteiras dos clientes.

    “Não entendemos que haverá impactos macroeconômicos relevantes para o Brasil, e as reações dos mercados locais têm sido moderadas em relação à guerra tarifária dos EUA com o Brasil e demais países”, diz Rodrigo Sgavioli, diretor de alocação da XP.

    Carlos Castro, planejador financeiro pela Planejar, também alerta que os investidores devem evitar as reações precipitadas de curto prazo.

    “É válido fazer uma revisão pontual se a carteira de investimento tiver fundos ativos que são impactados pelo efeito do tarifaço. Mas, em linhas gerais, as pessoas precisam levar em consideração seus objetivos de médio e longo prazo e não sair mexendo nos investimentos em razão das volatilidades de curto prazo”, diz Castro.

    O risco é um eventual impacto indireto, como a alta do dólar, pressionando a inflação.

    Para se proteger do efeito cambial, os especialistas também recomendam expor uma parte da carteira a ativos internacionais, como ações e moedas estrangeiras, de modo a blindar o patrimônio de uma desvalorização do real.

    Uma das pressões sobre a moeda brasileira é a saída de investimento estrangeiro do país, com a aversão a risco global. Em julho, houve uma retirada líquida de R$ 6,27 bilhões de estrangeiros da B3, o pior resultado desde abril de 2024.

    Segundo Aline, do Santander, esse movimento foi uma realização de lucros diante de um cenário mais incerto.

    “Eu conversei bastante com estrangeiros ao longo do mês, e o feedback que eu recebi é que o Brasil tinha subido muito no ano, especialmente em dólar, porque o Ibovespa havia avançado 15% e o real tinha valorizado mais uns 10%. Então, o Brasil era uma das Bolsas que mais subiam no mundo.”

    Outro risco no radar é um possível aumento de tensão entre os governos de Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que também pode prejudicar a moeda brasileira e, consequentemente, os preços.

    O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) tem desacelerado, mas segue acima do teto da meta, de 4,5%, acumulando alta de 5,35% nos últimos 12 meses. Quanto mais o índice demora a ceder, mais a Selic permanece em um patamar elevado. A expectativa é que a taxa fique em 15% até o fim deste ano e caia para 12,50% em 2026.

    Juros altos são prejudiciais à Bolsa de Valores, pois aumentam o custo das empresas, reduzem o consumo e estimulam o fluxo para a renda fixa.

    Também pesa contra o mercado acionário a proximidade das eleições presidenciais de 2026. Com a incerteza de quem sairá vencedor, muitos investidores preferem esperar para tomar decisões de investimento.

    Aline, do Santander, vê a baixa de algumas ações como oportunidade de investimento. “Especialmente setores domésticos que tem zero impacto das tarifas, como varejo, saúde, construção civil, infraestrutura, de serviços básicos.”

    Gigantes da Bolsa conseguem amortecer impacto do tarifaço, mas empresas menores sangram

  • Isolamento de Bolsonaro na prisão embaralha articulação da direita para 2026

    Isolamento de Bolsonaro na prisão embaralha articulação da direita para 2026

    Em especial sobre 2026, a prisão domiciliar ampliou a pressão de setores do mundo político e empresarial para a escolha de um candidato, mas ao mesmo tempo dificultou conversas nesse sentido com o ex-presidente -abordar o assunto agora, em momento de fragilidade, pode soar indelicado e oportunista

    (CBS NEWS) – Jair Bolsonaro (PL) completa nesta segunda-feira (11) uma semana de prisão domiciliar. A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), pegou seus advogados, família, aliados e o próprio ex-presidente de surpresa.

    Bolsonaro descumpriu medida cautelar imposta pelo magistrado ao participar, por videochamada, de ato bolsonarista no Rio de Janeiro e falar com apoiadores.

    O ato teve como consequência a antecipação da sua prisão, algo que era esperado por seus aliados apenas após o trânsito em julgado de uma provável sentença no caso da trama golpista, da qual é acusado de ser uma das lideranças. Ou seja, no fim do semestre.

    Com isso, houve um isolamento social que marca o fim de suas viagens pelo país, reuniões e telefonemas diários com lideranças e potenciais candidatos. Como cabe a ele a última palavra para definir quem será ou não candidato, essas articulações ficam prejudicadas, segundo interlocutores do ex-presidente.

    Em especial sobre 2026, a prisão domiciliar ampliou a pressão de setores do mundo político e empresarial para a escolha de um candidato, mas ao mesmo tempo dificultou conversas nesse sentido com o ex-presidente -abordar o assunto agora, em momento de fragilidade, pode soar indelicado e oportunista.

    Esses mesmos aliados do ex-presidente esperavam que os meses até o trânsito em julgado da trama golpista ajudassem a amadurecer o entendimento em torno de uma candidatura viável apoiada por Bolsonaro.

    Agora Bolsonaro está isolado em casa, com comunicação e visitas limitadas. Antes de Moraes autorizar a ida de familiares, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro era a principal interlocutora do ex-presidente, o que tornava a situação ainda mais difícil.

    Presidente do PL Mulher, ela não tem bom trânsito no mundo político e tampouco participa de articulações eleitorais.

    Segundo a última pesquisa do Datafolha, Michelle se sai melhor do que os filhos do ex-presidente numa eventual disputa contra Lula. Mas hoje esse cenário é considerado menos provável, e ela deve se lançar ao Senado pelo Distrito Federal.

    Bolsonaro terá no seu filho senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) um dos principais interlocutores.

    As visitas que recebeu nesta primeira semana de isolamento forçado também são indícios de quem terá acesso às conversas definidoras sobre a presidência nos próximos meses: Flávio; o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI); e Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo.

    Ciro Nogueira ficou cerca de meia hora com o ex-presidente. Ao deixar o condomínio no Jardim Botânico, onde fica a casa de alto padrão de Bolsonaro, gravou um vídeo em que disse: “Vi que, apesar de triste, nosso capitão continua inabalável acreditando no nosso Brasil e confiando em Deus”.

    A interlocutores o senador demonstrou preocupação com o ex-presidente, que tinha semblante abatido. Tanto o quadro psicológico quanto o de saúde têm sido as principais preocupações de aliados com Bolsonaro. Ele ainda tem crises de soluço e receberá visita de seus médicos na próxima semana.

    Na quinta-feira (7), Bolsonaro recebeu Tarcísio, com quem ficou por quase duas horas. A jornalistas o governador de São Paulo afirmou que foi um bom encontro e que Bolsonaro estava sereno.

    Aliados dos dois dizem que não foi discutido 2026, que o único assunto possível hoje é a prisão e formas de revertê-la. O governador buscará encontrar um caminho para ajudá-lo, dizem interlocutores, sem detalhar qual seria.

    Qualquer movimento eleitoral neste momento poderia ser interpretado pelos bolsonaristas com desconfiança. Os filhos do ex-presidente já deram declarações críticas ao governador de São Paulo, em especial após sua ausência nos atos de domingo.

    Por um lado, Tarcísio quer distância do tema tarifaço, pois avalia que a direita saiu desgastada devido à atuação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. Também evita criticar diretamente Alexandre de Moraes, com quem tem boa relação. A postura o afasta do bolsonarismo raiz, mas agrada setores do empresariado.

    Por outro, ele mantém um canal direto com o ex-presidente. A expectativa é de que mantenha agenda periódica a Brasília para ter essas conversas privadas com Bolsonaro, caso a prisão não seja revertida.

    Seus aliados dizem que é imprescindível, caso ele seja alçado à sucessão, manter o alinhamento político com Bolsonaro. Tarcísio de Freitas diz que não quer ser candidato à Presidência, mas sim à reeleição por São Paulo.

    De acordo com o último Datafolha, Lula lidera cenário no primeiro turno de forma isolada. Mas, no segundo, empata com Bolsonaro e Tarcísio, no limite da margem de erro. O ex-presidente está inelegível.

    O bolsonarismo mirou também outros pré-candidatos da direita por faltarem aos atos no domingo. Ratinho Jr (PSD), do Paraná; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Ronaldo Caiado (União), de Goiás, não também foram às manifestações nas suas cidades -algo que Flávio classificou à Folha de S.Paulo como “erro estratégico grande”.

    Na mesma semana em que Bolsonaro esteve em prisão domiciliar ocorreu um movimento de reunificar governadores desse campo, numa reunião na casa do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). O discurso era de criticar o governo Lula (PT) por sua atuação no tarifaço e o STF, pelo que chamam de crise institucional.

    Os participantes não tinham como objetivo discutir 2026, mas o tema entrou na conversa. Como mostrou a Folha de S.Paulo, governador Mauro Mendes disse aos participantes que o próximo presidente do Brasil estava na reunião. Se não estivesse, disse Mendes, e a esquerda continuasse no poder, os responsáveis também estariam ali.

    Isolamento de Bolsonaro na prisão embaralha articulação da direita para 2026

  • Tarifaço de Trump afeta ao menos metade das exportações de 22 estados aos EUA

    Tarifaço de Trump afeta ao menos metade das exportações de 22 estados aos EUA

    Estudo recente do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) indica que Sudeste e Centro-Oeste conseguem amortecer de forma significativa os efeitos do tarifaço, em parte porque foram beneficiados com a lista de isenções.

    NATÁLIA SANTOS E PAULA SOPRANA
    SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As tarifas impostas por Donald Trump sobre produtos importados do Brasil afetam ao menos a metade das vendas aos Estados Unidos em 22 estados brasileiros, com impacto superior a 95% em oito deles, segundo estimativa da Folha a partir de dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) relativos ao comércio de 2024.

    Desde a quarta-feira (6) vigora o decreto da Casa Branca que adiciona uma tarifa de 40% sobre os produtos importados do Brasil, elevando o valor total da sobretaxa ao país em 50%. Mesmo com uma lista de 694 isenções, estados como Tocantins, Alagoas, Acre, Amapá, Ceará, Rondônia, Paraíba e Paraná passam a ter de 95% a 100% de suas vendas aos Estados Unidos sobretaxadas.

    O percentual fica abaixo de 50% somente em Mato Grosso do Sul (49,6%), no Pará (44%), no Rio de Janeiro (32%), em Sergipe (24%) e no Maranhão (9%).

    Em valores absolutos, as tarifas de Trump sobre o total de exportações têm mais peso no Sudeste, já que a região é a maior exportadora. Ao considerar outros pontos, como a dependência dos americanos em alguns segmentos exportadores, as especificidades das cadeias afetadas e a lista de segmentos isentos, outras regiões sentirão efeitos mais severos, como Nordeste e Sul.

    Estudo recente do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) indica que Sudeste e Centro-Oeste conseguem amortecer de forma significativa os efeitos do tarifaço, em parte porque foram beneficiados com a lista de isenções.

    Em 2024, São Paulo vendeu US$ 13 bilhões aos Estados Unidos, e cerca de 56% dessas vendas ficam agora sobretaxadas, o que corresponde a US$ 7,5 bilhões. Trump isentou produtos de alto valor agregado e que estão entre os mais comercializados pelo estado, como aviões, petróleo e também o suco de laranja, suavizando o prejuízo geral.

    Os EUA são o principal parceiro internacional de São Paulo, respondendo por 19% das vendas, à frente de China, com 12%, e Argentina, com 9%.

    Entre os estados do Sudeste, Minas Gerais apresenta a maior fatia de seu comércio sobretaxada, com 63%. O estado comercializou US$ 4,6 bilhões aos americanos no ano passado, e agora US$ 2,9 bilhões desse montante têm incidência de 50%. O principal produto é o café, com US$ 1,5 bilhão do valor. O Brasil é o principal parceiro dos Estados Unidos para esse produto.

    Vários estados do Nordeste e do Norte, por outro lado, têm quase a totalidade das exportações aos EUA prejudicada com o tarifaço, sem alívio com a lista de isenções. Tocantins, por exemplo, exportou US$ 74 milhões para os americanos no último ano e, dentre os produtos enviados, todos estão em classes sobretaxadas -carne bovina, peptona, sebo animal, ossos, gelatina e derivados, para citar os de maior peso.

    No geral, Tocantins não depende tanto dos Estados Unidos na pauta exportadora, o que não minimiza o impacto em setores específicos e em microrregiões. O principal aliado externo do estado é a China, responsável por 47% das exportações no último ano. Os americanos aparecem em sexto lugar.

    O Ceará vive um cenário mais delicado porque a dependência geral das compras americanas é maior. A sobretaxa de Trump recai sobre 98,6% dos segmentos de produtos cearenses vendidos ao país, e quase metade (45%) de tudo que é direcionado para fora vai para lá. Estão sobretaxados ferro e aço, frutas, peixes, calçados e mel.

    O economista Flávio Barreto, que conduziu com Thiago de Araújo Freitas o estudo da FGV Ibre sobre o impacto das tarifas nas regiões, destaca que, mesmo que a participação americana possa ser pequena nas exportações gerais de alguns estados, Norte e Nordeste têm uma pauta exportadora concentrada em bens de baixo valor agregado e com alta intensidade de trabalho, além de não terem sido poupados na lista de isenções, como foi o Sudeste.

    “No Nordeste, grande parte dos produtos -frutas, pescados, calçados, vestuário- será taxada. No geral, são itens de baixo valor agregado, com mão de obra pouco qualificada, grande parte é perecível. Imagine, por exemplo, os produtores de mel no Piauí, onde grande parte da produção é feita por cooperativas e pequenos produtores”, avalia. Ficam sensíveis a forte impacto econômico Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte, com presença de polos agroindustriais voltados à exportação.

    Cenário semelhante ocorre no Sul. Na média regional, 88% das exportações têm tarifa plena. O Paraná é o estado com maior taxação sobre o valor exportado, cerca de 96% do que é vendido aos EUA, US$ 1,5 bilhão. No Sul, as tarifas de Trump atingem, principalmente, o segmento de madeira e móveis (a maior parte do que o Brasil vende vem da região) e de calçados e têxteis.

    Para Marcos Lélis, professor de economia da Unisinos e coordenador do grupo de pesquisa e competitividade e economia internacional da universidade, o efeito do tarifaço sobre exportações e, por fim, sobre o PIB dos estados, pode ser numericamente baixo. O ponto de atenção deve estar nos setores econômicos e nas microrregiões muito expostas aos Estados Unidos, que podem ser estrangulados.

    Ele estima que, no Rio Grande do Sul, maior exportador em termos absolutos do Sul, a sobretaxa em 85% do que é vendido aos americanos represente cerca de 7% das exportações estaduais, o que pode gerar impacto de 0,9% a 1,1% do PIB gaúcho em 12 meses.
    “Quando olhamos a nível global, parece baixo, mas o impacto setorial e regional é altíssimo. Fumo, armas e calçados representam quase 35% do que foi sobretaxado, e tanto armas e munições como o setor de calçados estão na mesma região, em São Leopoldo, e quase tudo é exportado aos Estados Unidos”, diz.

    Um dos exemplos é a fábrica da Taurus, na cidade de São Leopoldo, que exporta quase toda a produção de armas para os Estados Unidos, responsável por 80% do faturamento da empresa.

    “Se não houver uma solução, uma negociação, a curva vai ficando mais longa e afetando a cadeia de pequenos fornecedores do entorno dos setores afetados. A melhor forma de o governo ajudar, na minha opinião, não é setorial, mas concentrada, olhando empresa por empresa”, afirma. Ele diz isso porque há vários produtos isentos de tarifas dentro de um mesmo setor exportador.

    No Centro-Oeste, a sobretaxa tem incidência menor sobre a pauta exportadora dos estados e fere setores que não dependem exclusivamente dos Estados Unidos. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, o tarifaço atinge mais ou menos US$ 332 milhões da exportação (em torno de 50%), sendo 87% disso ligado a carnes e couro. A China, no entanto, responde por 32,7% das vendas do estado.

    A análise da Folha considerou a classificação do Sistema Harmonizado de seis dígitos, um código de mercadorias universal para classificar produtos que circulam no comércio internacional, criado pela Organização Mundial das Alfândegas. Esse código abarca segmentos econômicos bem específicos, mas não cada item.

    Assim, o levantamento é uma estimativa, uma vez que dentro de uma mesma categoria pode haver produtos isentos e taxados. Segundo o Mdic, não há uma tabela de conversão que compatibilize as especificações de comércio norte-americano (HTSUS) e brasileiro (NCM).

    Tarifaço de Trump afeta ao menos metade das exportações de 22 estados aos EUA

  • Bolsonaro preso em casa tem crises de soluço, mudança de humor e visitante sem celular

    Bolsonaro preso em casa tem crises de soluço, mudança de humor e visitante sem celular

    Interlocutores dos visitantes que estiveram com Bolsonaro desde a ordem de prisão, na segunda-feira (4), relataram a frustração dele com o que descrevem como uma decisão desproporcional do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

    MARIANNA HOLANDA E THAÍSA OLIVEIRA
    SÃO PAULO, SP E BRASÍLIA, DF (CBS NEWS) – Na primeira semana em prisão domiciliar, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu visitas de parentes e aliados, demonstrando contrariedade com sua situação política e exibindo variações de humor.

    Interlocutores dos visitantes que estiveram com Bolsonaro desde a ordem de prisão, na segunda-feira (4), relataram a frustração dele com o que descrevem como uma decisão desproporcional do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

    Segundo um desses relatos, Bolsonaro estava abatido, cansado e chateado -despertando preocupação de amigos com seu estado de espírito. Outra pessoa ouvida sob reserva diz que o ex-presidente já aparentava estar um pouco mais tranquilo com a nova condição e sem sinais de depressão.

    As crises de soluço, que já estavam presentes antes da prisão domiciliar, continuam sendo um incômodo para Bolsonaro. A condição impede que ele fale, durma e, às vezes, leva a vômitos.

    “Voltaram os episódios de soluço de forma intermitente. Ele já está se tratando do refluxo”, afirma Leandro Echenique, cardiologista que faz parte da equipe médica de Bolsonaro -autorizada por Moraes a acompanhá-lo em casa.

    “Ele já teve outras crises em pós-operatórios, mas os períodos eram menores”, diz o médico, descartando relação entre o mal-estar e a prisão domiciliar.

    O quadro de saúde do ex-presidente é um dos principais argumentos de aliados para evitar que ele, num momento pós-julgamento da trama golpista, no qual já é esperada a condenação, vá para uma prisão.

    Para evitar o descumprimento das regras impostas por Moraes, amigos e aliados autorizados a visitar Bolsonaro deixam o celular no carro, de acordo relatos -o magistrado proíbe qualquer acesso do ex-presidente a telefone.

    A senadora e ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF) avalia que Bolsonaro terá que encontrar uma nova rotina para se distrair.
    Ela afirma que o ex-presidente tinha uma rotina que incluía tarefas corriqueiras fora de casa. Como exemplo, ela cita o fato de que, horas antes da decisão de Moraes, no dia em que foi preso, Bolsonaro foi a uma loteria fazer uma aposta.

    “Entendo que a prisão para ele é uma tortura. Ele gosta de fazer coisas. Não tem o que fazer, ele inventa. Ficar dentro de casa para ele não vai ser fácil. Mas claro que vai criar toda uma rotina, dar banho em cachorro, cuidar da casa, ajudar”, afirma.

    Próxima à ex-primeira-dama, Damares afirma que Michelle Bolsonaro precisaria contratar uma auxiliar para ajudar nos afazeres domésticos. Michelle tem o hábito de cozinhar em casa, mas, às vezes, almoçava com o marido na sede do PL.

    A ex-primeira-dama não deve abrir mão da rotina nem do cargo de presidente do PL Mulher. No segundo dia de prisão de Bolsonaro, ela saiu para trabalhar e publicou um vídeo no Instagram de pantufas, com os dizeres: “Não podemos deixar que os dias tristes tirem nossa alegria. A alegria do Senhor é nossa força!”.

    Damares também pediu autorização a Moraes para visitar Bolsonaro. Amigos do ex-presidente querem intercalar as agendas para fazer companhia a ele durante o dia.

    O fato de o ministro do STF ter autorizado a ida de familiares e aliados trouxe alívio às pessoas que conviviam com ele, sobretudo pela questão dos filhos.

    Assim que saiu a decisão, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi à casa do pai. Já o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL) chegou a Brasília na quinta-feira (7). Segundos relatos, Renato Bolsonaro, irmão do ex-presidente, também o acompanha.

    Além deles e das demais moradoras da casa -Michelle, a filha Laura e a enteada Letícia-, estão autorizados a frequentar o local advogados e médicos do ex-presidente.

    O senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-chefe da Casa Civil de Bolsonaro, foi o primeiro do mundo político a visitá-lo. Ao deixar a casa, onde ficou por cerca de meia hora, ele gravou um vídeo: “Vi que, apesar de triste, nosso capitão continua inabalável, acreditando no nosso Brasil e confiando em Deus”.

    No dia seguinte, foi a vez do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Com o ex-presidente, ele ficou quase duas horas. Após o encontro, o ex-ministro da Infraestrutura disse que Bolsonaro estava bem e sereno.

    Moraes também autorizou a ida da vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), amiga de Michelle; dos deputados federais Junio do Amaral (PL-MG), Marcelo Moraes (PL-RS) e Luciano Zucco (PL-RS); e do empresário e candidato derrotado à prefeitura de Angra dos Reis Renato de Araújo Corrêa (PL).

    Também foram autorizados os deputados Domingos Sávio (PL-MG), Joaquim Passarinho (PL-PA), Capitão Alden (PL-BA) e Júlia Zanatta (PL-SC). Outros aliados, como o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), também pediram autorização.

    Moraes tem estabelecido as datas das visitas. Celina, por exemplo, tinha compromisso em São Paulo nesta sexta-feira (8) e não pôde ir. O magistrado remarcou a visita para o dia 15.

    O ministro do STF determinou a prisão por observar descumprimento de medidas cautelares. Bolsonaro participou de um ato no Rio de Janeiro por videochamada e fez uma fala aos apoiadores.

    Desde então, o ex-presidente, que ficou conhecido por ter atuação forte nas redes sociais, está proibido de utilizar qualquer telefone. Ele passa os seus dias em sua casa de alto padrão, num condomínio do Jardim Botânico, em Brasília.

    Bolsonaro preso em casa tem crises de soluço, mudança de humor e visitante sem celular

  • Um mês após maior ataque hacker da história do país, BMP recuperou metade dos R$ 541 mi roubados

    Um mês após maior ataque hacker da história do país, BMP recuperou metade dos R$ 541 mi roubados

    O Banco Central trabalha para organizar a repatriação do dinheiro desviado. Como as empresas vitimadas no incidente foram desligadas do sistema Pix, não foi possível recorrer ao mecanismo de devolução tradicional. Por isso, é preciso realizar checagens contábeis e parte do dinheiro está sob custódia das autoridades responsáveis pela investigação.

    PEDRO S. TEIXEIRA
    SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois de 40 dias do maior ataque cibernético já registrado na história do país, com prejuízo estimado na casa de R$ 1 bilhão, a principal vítima afirma ter recuperado metade dos R$ 541 milhões que perdeu. Cerca de R$ 270 milhões foram localizados, disse a instituição financeira BMP Moneyplus.

    O Banco Central trabalha para organizar a repatriação do dinheiro desviado. Como as empresas vitimadas no incidente foram desligadas do sistema Pix, não foi possível recorrer ao mecanismo de devolução tradicional. Por isso, é preciso realizar checagens contábeis e parte do dinheiro está sob custódia das autoridades responsáveis pela investigação.

    O rastreamento das quantias extraviadas pelos criminosos está sob responsabilidade de operação coordenada entre o Ministério Público e a Polícia Federal, com informações fornecidas pelo BC e por empresas de criptoativos.

    Além disso, corre em paralelo uma investigação da Polícia Civil de São Paulo, aberta a partir do boletim de ocorrência registrado pela BMP.

    As autoridades trabalham para seguir o caminho do dinheiro, que foi disperso entre contas de laranjas e criptomoedas. Esse rastreamento é possível porque o sistema Pix registra todas as transações, permitindo que sejam auditadas, além da cooperação de empresas de criptoativos.

    O ataque cibernético explorou uma série de falhas que deram brecha para que os criminosos movimentassem contas de ao menos seis clientes da provedora serviços de tecnologia da informação (PSTI) C&M Software. Um funcionário da PSTI foi cooptado pela quadrilha, intermediou as transferências, e agora está preso.

    Em nota, a C&M Software diz que as evidências apontam que o incidente decorreu de táticas para enganar funcionários de forma a induzir o compartilhamento indevido de credenciais de acesso, não de falhas nos sistemas ou na tecnologia da empresa. O BC permitiu que a C&M voltasse a prestar serviços ainda em 3 de julho.

    Além da BMP, relatório da Polícia Federal mostra que o Banco Industrial do Brasil e a cooperativa de crédito rural CrediAliança também tiveram valores desviados. O CorpX Bank também registrou queixa junto à polícia paulista. Ainda não há informações sobre as outras duas vítimas.

    VEJA O QUE SE SABE DO QUE ACONTECEU COM O DINHEIRO
    O que descobriu a Polícia Civil de São Paulo:
    Em um primeiro momento, a quadrilha enviou os R$ 541 milhões desviados da BMP em mais de cem contas de 29 diferentes instituições financeiras, de acordo com tabela presente no inquérito da Polícia Civil de São Paulo.

    Dessas empresas, oito disseram à Folha que bloquearam valores recebidos e comunicaram o Banco Central.
    Os principais destinos foram:
    – Soffy: recebeu mais de R$ 271 milhões em uma conta que, segundo a empresa, pertencia a um cliente parceiro não identificado
    – Transfeera: recebeu mais de R$ 89 milhões em 22 transferências
    – Monexa (empresa criada 19 dias antes do golpe): recebeu R$ 45 milhões em cinco transferências na madrugada
    – Nuoro Pay (mantinha conta da Monexa): bloqueou 390 transações suspeitas de R$ 25 mil vindas da Transfeera e Soffy
    Segundo o CEO da Nuoro Pay, Ricardo Sinval, a sua instituição financeira, que atendia a conta da Monexa e trabalha principalmente com sites de apostas, não bloqueou inicialmente os Pix da BMP por se tratar de uma grande instituição financeira. Contudo, a empresa bloqueou 390 transações suspeitas de R$ 25 mil vindas da Transfeera e Soffy.

    A única sócia da Monexa, que tem sede no interior do Paraná, é uma vendedora de 24 anos –as autoridades apuram se ela era laranja ou tinha intenção de participar. A empresa não atendeu às ligações ao telefone registrado em sua certidão.

    Ainda de acordo com Sinval, a Nuoro Pay respeitou as normas do Banco Central ao criar uma conta para a Monexa.

    A Soffy foi alvo de mandado de bloqueio de valores da Justiça paulista, depois que contas na instituição receberam mais de R$ 271 milhões.

    O Fantástico, da TV Globo, revelou que uma das contas estava no nome da empresária Vanessa Rittaco, que disse nunca ter se cadastrado na instituição. Uma conta em nome dela recebeu cinco transferências de R$ 5 milhões. À Folha a empresária disse que não tinha mais informações para compartilhar.

    A Soffy é alvo de ao menos 77 ações na Justiça Paulista. Parte dos autos, aos quais a reportagem teve acesso, eram justamente reclamações de contas laranjas abertas sem a anuência dos titulares. A empresa não respondeu à pergunta da Folha sobre essas ações.

    A Transfeera afirma que o assunto está sob investigação das autoridades competentes. “Por esse motivo, qualquer manifestação neste momento poderia interferir no andamento das apurações.”
    As três instituições de pagamento tiveram suas integrações ao Sistema Pix suspensas pelo Banco Central.

    O que descobriu a Polícia Federal em Roraima:
    Sob coordenação do Ministério Público de São Paulo e com informações do BC, a Polícia Federal rastreou uma cadeia de lavagem de dinheiro usada pelos autores do ataque cibernético. O esquema foi revelado pela Rede Amazônica, emissora da TV Globo neste estado, e confirmado pela Folha.

    Veja como foi:
    – Esther Assets (gestora de fundos com sede em Contagem-MG): recebeu R$ 11 milhões do dinheiro desviado e enviou quantias para fintech Sis Pagamentos R$ 1 milhão via conta na Transfeera R$ 10 milhões via conta na Creditag
    – Rich Beauty (distribuidora de cosméticos com sede em Brasília): recebeu R$ 1 milhão e transferiu R$ 565 mil para o Bank Ben
    – Sis Pagamentos e Bank Ben: repassaram R$ 2,45 milhões para a conta poupança de Jackson Renei Aquino de Souza (assessor parlamentar em Roraima)
    – Souza: sacou R$ 1 milhão em dinheiro vivo e foi preso com R$ 700 mil em espécie

    Procurada, a defesa de Souza disse que não se manifesta publicamente sobre nenhum caso. Em depoimento às autoridades, o assessor parlamentar afirmou que não sabia da origem dos valores, que foram recebidos para comprar um imóvel em nome de um terceiro.

    A Creditag não respondeu à reportagem se conseguiu bloquear valores que estiveram sob sua custódia.

    CRIMINOSOS TAMBÉM COMPRARAM CRIPTOMOEDAS
    Outra parte do dinheiro desviado foi convertida em criptomoedas. O dia 30 de junho, quando aconteceu o ataque cibernético à C&M Software, registrou o maior volume de transações em criptomoedas daquele mês –R$ 733,5 milhões em bitcoins e R$ 158,8 milhões em USDT, uma criptomoeda cujo valor fica ancorado no dólar, segundo a plataforma Biscoint que estima os valores a partir da movimentação nas principais corretoras.

    A Smartpay, fintech que integra o sistema Pix à compra de criptomoedas e também ajudou a identificar o golpe, diz que as movimentações suspeitas na segunda-feira começaram 0h18 –horário também citado na investigação da Polícia Federal.

    De acordo com o fundador da Smartpay, Rocelo Lopes, os invasores tentaram adquirir criptoativos de diversas fontes. Ao notar uma explosão de abertura de contas em sua fintech e uma demanda acima do normal por USDT e bitcoins, Rocelo decidiu bloquear movimentações ainda na madrugada de segunda-feira, quando aconteceu o ataque.

    A Smartpay atua por meio da sociedade de crédito Voluti, que recebeu R$ 13 milhões em transferências Pix advindas da conta da BMP. Em nota, a Voluti disse ter bloqueado as contas e valores suspeitos que ainda tinham saldo relevante, comunicado os órgãos competentes e devolvido as quantias por meio do mecanismo de devolução do Pix.

    Em 15 de julho, o Ministério Público de São Paulo e a Polícia Federal divulgaram a recuperação de R$ 5,5 milhões em criptoativos, após cumprimento de dois mandados de prisão temporária e cinco mandados de busca e apreensão nos estados de Goiás e Pará.

    A chave privada de acesso às criptomoedas foi localizada em um dos endereços, permitindo que as autoridades recuperassem o dinheiro.

    A Tether, empresa que emite a criptomoeda USDT, colaborou fornecendo informações sobre as transações às autoridades brasileiras.

    QUEM ESTÁ PRESO
    A Justiça de São Paulo decretou a prisão preventiva de João Nazareno Roque, 48, investigado pelo ataque hacker à empresa de software C&M, no dia 11 de julho.

    De acordo com o advogado de Roque, Jonas Reis, seu cliente continua sob detenção. “Estamos no aguardo de um pedido de liberdade”, afirmou. Reis afirma que seu cliente também foi vítima da quadrilha que o aliciou.

    O técnico de TI está preso desde o dia 3 de julho, sob acusação de participação no ataque cibernético que causou prejuízo de cerca de R$ 1 bilhão a instituições financeiras clientes da C&M.

    À polícia, Roque afirmou ter sido cooptado em março por um homem, não identificado, que o encontrou em um bar, em Pirituba, na zona norte da capital paulista. Ele também manteve contato telefônico com outros três suspeitos de participação no crime, mas as autoridades ainda não divulgaram suas identidades.
    A Polícia Federal também prendeu em flagrante o assessor parlamentar Jackson Renei Aquino de Souza, com R$ 700 mil em dinheiro vivo.

    VEJA A CRONOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO
    30 de junho: Criminosos acessam contas de clientes da C&M Software mantidas junto ao sistema Pix e desviam cerca de R$ 1 bilhão

    1º de julho: Instituições financeiras informam Banco Central do ocorrido

    2 de julho: Polícia Federal foi acionada e abriu inquérito

    3 de julho: Polícia Civil de São Paulo deflagra operação e prende João Nazareno Roque; Justiça bloqueia contas da Soffy; Banco Central suspende integração ao Pix de três instituições financeiras

    4 de julho: Banco Central suspende integração ao Pix de mais três instituições financeiras

    11 de julho: Justiça decreta prisão preventiva de João Nazareno Roque

    15 de julho: PF e MPSP deflagram operação Magna Fraus em Goiás e Pará, recuperando R$ 5,5 milhões em criptoativos

    22 de julho: PF prende em flagrante o assessor parlamentar Jackson Renei Aquino de Souza

    23 de julho: Justiça decreta prisão preventiva do assessor parlamentar

    Um mês após maior ataque hacker da história do país, BMP recuperou metade dos R$ 541 mi roubados