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  • Entenda em 10 pontos o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia

    Entenda em 10 pontos o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia

    Tratado negociado há mais de duas décadas prevê a criação de um mercado com mais de 700 milhões de consumidores, redução gradual de tarifas, salvaguardas ambientais e agrícolas, além de impactos distintos para setores da economia brasileira e europeia.

    (FOLHAPRESS) – Às vésperas da data que pode selar o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, a conclusão do tratado passou a enfrentar uma oposição de peso. A primeira ministra da Itália, Giorgia Meloni, indicou que deve se juntar ao grupo de países insatisfeitos com o pacto, liderado pela França.

    Esse posicionamento pode adiar a assinatura do documento, que é fruto de negociações iniciadas há mais de duas décadas e que prevê a criação de um mercado de aproximadamente 720 milhões de pessoas.

    O tema foi discutido nesta quarta-feira no chamado triálogo, que reúne representantes do Parlamento, do Conselho e da Comissão Europeia. Foi elaborado um texto final que incorpora o acordo desenhado pela Comissão, acrescido das salvaguardas aprovadas pelo Parlamento. A versão retificada deve ser submetida a votação nesta quinta-feira, 18, no Conselho.

    Atualmente, a União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Mercosul, atrás apenas da China e à frente dos Estados Unidos. Em 2023, o bloco europeu respondeu por 16,9% do comércio total do Mercosul.

    O que é um tratado de livre comércio

    Um tratado de livre comércio é um acordo entre países ou blocos que tem como objetivo reduzir ou eliminar tarifas e remover outras barreiras à importação e à exportação de bens e serviços.

    Quando começaram as negociações entre Mercosul e União Europeia

    As negociações tiveram início em 1999, durante a Cúpula Mercosul União Europeia realizada no Rio de Janeiro. Na ocasião, foi anunciado o objetivo de iniciar as tratativas do acordo. As negociações foram concluídas inicialmente em 2019, mas o texto foi reaberto e só aprovado em dezembro de 2024.

    Desde então, o Parlamento Europeu aprovou regras mais rígidas para o monitoramento de preços dos produtos comercializados dentro do bloco, com previsão de investigações e sanções em caso de prejuízo a produtores agrícolas. Mesmo assim, essas medidas não foram suficientes para dissipar os temores de países europeus em relação a possíveis impactos das importações do Mercosul.

    O que o acordo prevê

    Para o Mercosul, o tratado prevê a eliminação de tarifas que pode ocorrer de forma imediata ou gradual, conforme o setor, em prazos que variam de 4 a 15 anos, com exceções no setor automotivo. Essas medidas abrangem cerca de 91% dos bens importados pelo Brasil da União Europeia.

    No caso da União Europeia, a liberação tarifária também poderá ser imediata ou gradual, em prazos entre 4 e 12 anos, abrangendo aproximadamente 95% dos produtos brasileiros exportados ao bloco.

    Há ainda produtos sujeitos a cotas, principalmente do setor agroindustrial, que representam cerca de 3% das exportações brasileiras para a União Europeia.

    O acordo também trata de temas como serviços, investimentos, compras governamentais, medidas sanitárias e propriedade intelectual.

    Quais serão os próximos passos se o acordo for assinado

    Para facilitar a aprovação, o acordo comercial foi separado do acordo político. Como o comércio exterior é competência da União Europeia, não será necessária a ratificação individual por cada Estado membro, bastando a aprovação pelo Parlamento Europeu. No Mercosul, será exigida a aprovação dos países integrantes. No Brasil, o processo envolve os Poderes Executivo e Legislativo.

    Há ainda a possibilidade de judicialização no âmbito europeu. Um grupo de parlamentares contrários ao tratado pretende levar o documento à Corte de Justiça da União Europeia, a mais alta instância jurídica do bloco. A resolução está retida na presidência do Parlamento Europeu, sob responsabilidade de Roberta Metsola, que afirma que o tema será levado a plenário no momento adequado.

    Outra possibilidade de questionamento judicial pode surgir durante a análise do acordo nos Parlamentos nacionais. Qualquer rejeição pode servir de argumento para contestar a legalidade do tratado como um todo, o que poderia comprometer sua parte comercial e prolongar o processo por anos.

    Quais são as salvaguardas previstas

    Em 16 de dezembro, o Parlamento Europeu aprovou salvaguardas mais rigorosas para tentar reduzir a oposição da França, principal crítica ao tratado. Ainda assim, as medidas foram consideradas insuficientes por alguns países.

    Pelas regras, a Comissão Europeia poderá abrir investigações em caso de flutuações excessivas nos preços de produtos sensíveis e aplicar sanções caso mercadorias do Mercosul não cumpram os padrões sanitários e ambientais exigidos pelo bloco.

    O mecanismo de investigação será acionado se o preço de um produto importado do Mercosul apresentar variação superior a 5% em relação à média dos últimos três anos ou se o volume da cota isenta variar acima desse mesmo percentual.

    Os produtos que mais preocupam os legisladores europeus são a carne bovina, a carne de aves e o açúcar. O receio é de um aumento expressivo das importações sul americanas em caso de dificuldades na cadeia agrícola europeia, o que levou Bruxelas a prometer um monitoramento quase em tempo real dos mercados.

    Quem ganha e quem perde com o acordo

    O tratado criaria um mercado comum de cerca de 722 milhões de pessoas, com economias que somam aproximadamente 22 trilhões de dólares, segundo o governo brasileiro.

    Um estudo do Ipea aponta que o acordo pode gerar um crescimento de 0,46% no Produto Interno Bruto brasileiro até 2040. Em termos comparativos, o Brasil teria ganhos superiores aos da União Europeia, com aumento estimado de 0,06%, e aos dos demais países do Mercosul, com alta de 0,20%.

    Para o Mercosul, uma das principais vantagens é a eliminação das tarifas de importação de 77% dos produtos agropecuários exportados para a União Europeia, beneficiando especialmente carnes suína e de frango, pecuária bovina, frutas e vegetais.

    Por outro lado, setores da indústria brasileira, como equipamentos elétricos, máquinas, produtos farmacêuticos, têxteis e metalurgia, podem sofrer impactos negativos, segundo o Ipea.

    A União Europeia, por sua vez, teria acesso ampliado ao mercado do Mercosul, hoje bastante protegido, aumentando a demanda por seus produtos.

    Um argumento adicional a favor do acordo é a possibilidade de compensar perdas comerciais causadas pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos durante o governo Donald Trump.

    Como funciona o acordo automotivo

    O setor automotivo terá um período mais longo de eliminação tarifária, com o objetivo de reduzir o impacto da entrada de veículos europeus no Mercosul. Para carros a combustão, o prazo é de 15 anos. Para veículos eletrificados, o período foi ampliado para 18 anos. Já os veículos movidos a hidrogênio terão prazo de 25 anos, com seis anos de carência.

    O acordo inclui ainda uma salvaguarda que poderá ser acionada caso o aumento das importações cause prejuízos à indústria nacional. Nesse cenário, o Brasil poderá suspender o cronograma e restabelecer a tarifa de 35% por até três anos, com possibilidade de prorrogação por mais dois.

    O que o acordo prevê para o agronegócio

    As tarifas de importação de 77% dos produtos agropecuários adquiridos pela União Europeia junto ao Mercosul serão eliminadas de forma gradual.

    Isso permitirá a ampliação das exportações de produtos como café, frutas, peixes, crustáceos e óleos vegetais, cujas taxas de importação serão progressivamente reduzidas até zerar.

    Combate às mudanças climáticas

    O acordo estabelece que o Acordo de Paris é um elemento essencial da relação entre União Europeia e Mercosul. Caso uma das partes viole gravemente ou abandone o tratado climático, o acordo comercial poderá ser suspenso.

    A União Europeia também prevê a criação de um fundo de 1,8 bilhão de euros para apoiar ações voltadas à transição verde e digital nos países do Mercosul, no âmbito do programa Global Gateway. O objetivo é fortalecer indústrias locais e preparar os países para os desafios futuros.

    Por que o acordo de 2019 foi renegociado

    As negociações foram concluídas inicialmente em 2019, durante o governo Jair Bolsonaro. Na época, houve forte resistência na Europa devido às posições do então presidente brasileiro sobre questões ambientais.

    Com isso, o acordo ficou paralisado por anos e não foi encaminhado para análise do Parlamento Europeu nem dos Legislativos do Mercosul.

    Com a chegada do presidente Lula ao governo, parte das resistências ambientais foi superada. Ainda assim, Mercosul e União Europeia reabriram as negociações para ajustar pontos relacionados às exigências ambientais e à política de compras governamentais.

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  • Lula diz que ministros terão que definir lado na eleição e que 2026 será 'hora da verdade'

    Lula diz que ministros terão que definir lado na eleição e que 2026 será 'hora da verdade'

    Durante reunião ministerial, o presidente também disse que o governo ainda não conseguiu construir a narrativa correta para alcançar a população e que a polarização política dificulta o convencimento do eleitorado.

    (CBS NEWS) – O presidente Lula (PT) afirmou nesta quarta-feira (17) que seus ministros e respectivos partidos precisarão decidir de qual lado estarão na eleição de 2026, chamada por ele de “hora da verdade”.

    Durante reunião ministerial, o presidente também disse que o governo ainda não conseguiu construir a narrativa correta para alcançar a população e que a polarização política dificulta o convencimento do eleitorado.

    “Ano que vem é o ano em que a gente tem a oportunidade, não só porque estaremos em disputa, mas porque cada ministro, cada partido que vocês participam vai ter que estar no processo eleitoral e vai ter que se definir de que lado tá. Será inexorável as pessoas definirem o discurso que vão fazer. Eles vão ter que defender aquilo que eles acham que podem elegê-los”, disse.

    “Importante que a gente tenha noção que nós precisamos fazer com que o povo saiba o que aconteceu nesse país. Eu tenho a impressão que o povo ainda não sabe. Eu tenho impressão que nós ainda não conseguimos a narrativa correta para fazer com que o povo saiba.”

    Para dar ênfase à disputa do ano que vem, Lula e seus ministros apresentaram quadros comparativos críticos ao governo Jair Bolsonaro (PL).

    O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, lançou sua pré-candidatura ao Planalto, e o governo quer reforçar o enfrentamento contra o bolsonarismo.

    “O dado concreto é que o ano eleitoral vai ser o ano da verdade. Ou seja, temos que criar a ideia da hora da verdade para mostrar quem é quem nesse país, quem faz o que nesse país, o que aconteceu antes de nós”, declarou Lula na reunião.

    O recado do presidente ocorre após meses de ruídos com os partidos do centrão, grupo que tem ministros na Esplanada e que pode apoiar adversários de Lula na disputa, como os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ratinho Jr (PSD).

    No último mês, o principal atrito foi registrado com o União Brasil, que acabou por expulsar Celso Sabino (Turismo) da sigla, após o ministro ter optado por se manter no governo Lula. Dirigentes da sigla fizeram críticas públicas à gestão petista e orientaram afastamento de seus filiados.

    Os ministros Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), André Fufuca (Esportes), Carlos Fávaro (Agricultura), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e André de Paula (Pesca) são alguns dos nomes da Esplanada que ainda integram partidos considerados do centrão.

    O petista reconheceu o desejo de seus auxiliares de disputar o pleito e pediu: “Aquele que tiver que se afastar [da Esplanada], por favor, ganhe o cargo que disputar”.

    “É sempre assim: quando você tira um ministro, ele chora, mas quando ele quer sair, encontra todos os argumentos necessários para sair e joga a responsabilidade em cima do povo”, disse.

    A reunião ministerial ocorre na Granja do Torto, a casa de campo oficial da Presidência. Neste encontro periódico, que costuma ocorrer pelo menos duas vezes por ano, o presidente reúne seus ministros para fazer um balanço das entregas do governo.

    Esta é a terceira reunião ministerial do ano. A primeira, foi realizada no começo do ano, em janeiro, enquanto a última foi feita em agosto, quando as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil estavam entre as principais preocupações da gestão.

    COMUNICAÇÃO

    No encontro, Lula também cobrou que seus ministros adotem uma comunicação mais clara e criticou a divulgação de informações com documentos que “ninguém vai entender”.

    “Precisamos ter um esforço muito grande, todos os ministros têm que conhecer todas as políticas”, disse. “Se a gente tiver o conhecimento do todo, fica muito mais fácil de a gente trabalhar para o governo, que não é o governo do Lula. Vocês falam ‘o governo do presidente Lula’ e parece que vocês não são governo”, declarou.

    “Isso que eu quero que aconteça a partir de agora. A comunicação tem responsabilidade do Sidônio, das entrevistas que eu dou, mas tem também a responsabilidade cada um. Esse ano não quero ser grosseiro com ninguém, mas é preciso que a gente não confunda poluição visual com comunicação. É preciso não embaralhar mil coisas numa página de papel.”

    As falas foram feitas após longa apresentação de balanço das ações feita pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, seguida do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Lula também disse que convocará reuniões individuais com todos os chefes de pastas na Esplanada.

    “Outros que são ministérios mais sofisticados, que exige conhecimento jurídico, às vezes faz um documento que ninguém vai conseguir ler. É importante que na hora da comunicação a gente não faça para a gente mesmo. Não é para você que você está fazendo, está fazendo para alguém. E é preciso saber se esse alguém está entendendo o que você está falando”, declarou.

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  • Senado aprova redução da pena de condenados do 8 de janeiro

    Senado aprova redução da pena de condenados do 8 de janeiro

    Os senadores aprovaram o parecer do senador Esperidião Amin (PP-SC), que reduz as penas dos condenados por atos golpistas. Entre eles, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Mais cedo, o projeto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa

    O Senado aprovou nesta quarta-feira (17), em votação nominal, o projeto de Lei (PL) 2162/2023, o chamado PL da Dosimetria que prevê a redução de penas de condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e pela tentativa de golpe de Estado.

    Foram 48 votos favoráveis e 25 votos contra. O texto segue agora para a sanção presidencial.

    Os senadores aprovaram o parecer do senador Esperidião Amin (PP-SC), que reduz as penas dos condenados por atos golpistas. Entre eles, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Mais cedo, o projeto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.

     

    Amin, que é favorável à anistia, defende que a redução das penas visa “pacificar o país”.

    “Somos da posição de que a anistia para os condenados pelos eventos de 8 de janeiro deveria ser analisada à luz do princípio da unidade nacional e da função integradora do direito constitucional. A manutenção de centenas de cidadãos em regime fechado por atos que, embora ilícitos, não configuraram insurgência armada ou ameaça real à soberania, pode agravar divisões e comprometer a legitimidade das instituições”, argumentou.

    “O perdão apresentar-se-ia como solução juridicamente possível e politicamente adequada para encerrar um ciclo de tensão e reafirmar o compromisso do Estado brasileiro com a democracia e a pacificação social”, concluiu.

    O relator acatou uma emenda que determina que a redução será aplicada apenas aos condenados pelos atos golpistas. O senador considerou a emenda como apenas um ajuste de redação e não de mérito, para que o projeto não tenha que retornar à Casa de origem – no caso, a Câmara dos Deputados, que aprovou a matéria na noite do dia 9 de dezembro. 

    Um grupo de senadores se manifestou contra o projeto por não representar o anseio do país.

    “Foi urdida uma trama, foi planejado um golpe de Estado no Brasil e foi tudo coordenado, financiado para que o golpe se concretizasse. Felizmente, não se concretizou por vários fatores”, disse o senador Marcelo Castro (MDB-PI).

    “Há uma semana, nós votamos aqui a Lei Antifacção, endurecendo as penas, dificultando a progressão. E, hoje, senhoras e senhores, nós estamos aqui, incoerentemente, fazendo exatamente o contrário”, finalizou.

    Para o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), o projeto foi construído para beneficiar um grupo político que atentou contra o Estado Democrático de Direito.

    “Essa é uma proposta casuística, uma norma jurídica que está sendo criada para beneficiar um grupo, para dar privilégio para um grupo, um grupo que atentou contra a própria Constituição”, afirmou.

    “Nós temos que dar ao Brasil um recado importante de que golpe de Estado tem que se tratar com dureza, especialmente num processo que foi totalmente baseado na legalidade, que deu direito de defesa. Um julgamento que o Brasil inteiro acompanhou, um processo em que provas que foram produzidas provas materiais e a maior parte delas, produzidas pelos próprios criminosos”, reiterou.

    Senadores do PL defenderam a proposta. O senador Izalci Lucas (PL-DF) disse que a proposta serve para diminuir penas de pessoas que não estavam diretamente envolvidas na trama e que receberam duras condenações.

    “Nós precisamos votar essa matéria para virar essa página e tirar essas pessoas: o pipoqueiro, o vendedor de bala, que foi condenado há oito anos, 14 anos”, disse.

    “Eu sou a favor da anistia, mas vamos aprovar a redução de pena para tirar os manifestantes da cadeia. Isso é o mais importante”, afirmou o senador Sergio Moro (União-PR).

    O que é o PL da Dosimetria?

    O PL da Dosimetria determina que os crimes de tentativa contra o Estado Democrático de Direito e de golpe de Estado, quando praticados no mesmo contexto, implicarão no uso da pena mais grave em vez da soma de ambas as penas.

    O foco do projeto é uma mudança no cálculo das penas, “calibrando a pena mínima e a pena máxima de cada tipo penal, bem como a forma geral de cálculo das penas, reduzindo também o tempo para progressão do regime de prisão fechado para semiaberto ou aberto.

    Tais mudanças poderão beneficiar réus como o ex-presidente Jair Bolsonaro, além dos militares Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil; e Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

    Repercussão

    No dia 10 de dezembro, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), enviou o PL da Dosimetria à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), tendo, como relator, o senador Esperidião Amim (PP-SC) – apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro.
    No dia seguinte, ao ser perguntado sobre o projeto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que só decidirá se vai sancionar quando o texto chegar ao Poder Executivo.

    Manifestantes foram às ruas de diversas cidades no último domingo (14) contra a aprovação do PL da Dosimetria. 

    Especialistas consultados pela Agência Brasil avaliaram que o PL da Dosimetria poderá diminuir o tempo de progressão de pena para outros condenados por crimes comuns.

    Senado aprova redução da pena de condenados do 8 de janeiro

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  • Austrália acusa terrorista sobrevivente em ataque em Sydney de 59 crimes

    Austrália acusa terrorista sobrevivente em ataque em Sydney de 59 crimes

    Funerais das vítimas começam nesta quarta (17) em meio à indignação na Austrália. Naveed Akram saiu do coma e será ouvido; autoridades das Filipinas negam que os suspeitos tenham sido treinados em seu país

    SÃO PAULO, SP (CBS NEWS) – A polícia da Austrália afirmou nesta quarta-feira (17) que Naveed Akram, 24, terá de responder por 59 acusações, que incluem assassinato, lesão com tentativa de assassinato e terrorismo pelo atentado cometido no último domingo (14) na praia de Bondi, em Sydney.

    Baleado por policiais durante o ataque, Akram saiu do coma no hospital em que foi internado. Ele deve falar por videoconferência a um tribunal local na manhã da próxima segunda (22). Seu pai, Sajid, 50, foi morto a tiros por agentes que chegaram à cena do ataque.

    A dupla matou 15 pessoas a tiros durante a celebração judaica do Hannukah, em um episódio que chocou a Austrália e expôs o aumento do antissemitismo no país. Outros 23 feridos continuam hospitalizados.

    Também nesta quarta (17), o conselheiro de Segurança Nacional das Filipinas, Eduardo Año, afirmou não haver evidências de que os dois atiradores tenham recebido algum tipo de treinamento terrorista enquanto estavam no país asiático. Em um comunicado, Año disse que a duração da estada deles (28 dias) não teria permitido nenhuma preparação significativa.

    O conselheiro declarou que o governo filipino investiga a viagem dos dois homens no período de 1º a 28 de novembro e está em contato com as autoridades australianas para determinar o propósito da visita. Ele classificou de desatualizados e enganosos relatos que retratam o sul das Filipinas como um bastião do extremismo islâmico.

    Registros de imigração mostram que a dupla desembarcou em Manila e viajou para Davao, em Mindanao, uma região que sofre há anos com a presença de extremistas islâmicos. A polícia australiana declarou que os atiradores parecem ter sido inspirados pelo Estado Islâmico.

    A polícia filipina e funcionários do hotel em que ficaram os suspeitos afirmam que ambos tiveram raras saídas do quarto -não teriam passado mais de uma hora seguida fora do hotel-, e não conversaram com outros hóspedes ou receberam visitas. O pai teria usado um passaporte indiano, e o filho, um australiano.

    Trabalhadores do hotel ouvidos pela polícia relataram que o comportamento de ambos não foi suspeito em nenhum momento. Eles se lembram de embalagens de fast food no lixo do quarto e de os dois terem chegado ao local apenas com uma mala grande e uma mochila.

    Desde o cerco de Marawi em 2017, uma batalha de cinco meses na qual o grupo Maute, inspirado pelo Estado Islâmico, tomou esta cidade do sul filipino e lutou contra as forças governamentais, as tropas federais degradaram significativamente os grupos afiliados ao EI, de acordo com Año.

    O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, enfrenta críticas de que seu governo de centro-esquerda não fez o suficiente para impedir a propagação do antissemitismo no país durante os dois anos da guerra Israel-Hamas. “Trabalharemos com a comunidade judaica, queremos eliminar e erradicar o antissemitismo de nossa sociedade”, disse Albanese a jornalistas.

    A gestão dele e os serviços de inteligência também estão sob pressão para explicar por que Sajid Akram teve permissão para adquirir legalmente os fuzis e espingardas usados no ataque.

    Chris Minns, primeiro-ministro (equivalente a governador) do estado de Nova Gales do Sul, cuja capital é Sydney, disse que convocará o Parlamento estadual na próxima semana para aprovar reformas na legislação local de armas.

    O governo estadual também analisará reformas que dificultem a realização de grandes protestos de rua após eventos terroristas, a fim de evitar mais tensões. “Temos uma tarefa monumental à nossa frente. É uma enorme responsabilidade unir a comunidade. Acho que precisamos de um verão de calma e união, não de divisão”, disse.

    O presidente dos EUA, Donald Trump, disse em um evento de Hanukkah na Casa Branca que estava pensando nas vítimas do “horrível ataque terrorista antissemita”. “Nós nos unimos ao luto por todos aqueles que foram mortos e estamos orando pela rápida recuperação dos feridos.”

    Os funerais das vítimas do ataque começaram nesta quarta. Um deles foi o do rabino Eli Schlanger, assistente na sinagoga Chabad Bondi e pai de cinco filhos. Ele era conhecido pelo trabalho para a comunidade judaica de Sydney por meio do Chabad, uma organização global que promove a identidade e conexão judaica. Schlanger viajava para prisões e se encontrava com pessoas judias que viviam nas comunidades de habitação pública de Sydney, disse o líder judeu Alex Ryvchin.

    Austrália acusa terrorista sobrevivente em ataque em Sydney de 59 crimes

  • Fabio Porchat transforma Bíblia em stand-up no especial de Natal do Porta dos Fundos

    Fabio Porchat transforma Bíblia em stand-up no especial de Natal do Porta dos Fundos

    Produção questiona leitura seletiva do texto sagrado por parte de líderes religiosos e fiéis; humorista defende a responsabilidade sobre o impacto do conteúdo e diz não temer repercussão

    SÃO PAULO, SP (CBS NEWS) – Em vez de criar piadas sobre a Bíblia, Fabio Porchat decidiu lê-la. O resultado é “Stand Up e Anda!”, especial de Natal do Porta dos Fundos de 2025, que usa passagens do Velho Testamento como material para um programa que conta histórias bíblicas clássicas e detalhes menos conhecidos de maneira cômica e questiona interpretações seletivas do texto sagrado.

    O especial, que estreia nesta quarta-feira (17) no YouTube, marca o retorno do Porta dos Fundos ao formato natalino após dois anos e aposta em um gênero inédito dentro dessa tradição do grupo. Pela primeira vez, a produção coloca Porchat sozinho em cena, no papel de Jafé Julião, um comediante que se apresenta para uma plateia há dois mil anos.

    Segundo Porchat, as passagens narradas foram escolhidas pela distância que o público costuma manter dos detalhes “absurdos” ou “improváveis” do texto original. “A maioria das pessoas acredita profundamente na Bíblia, mas não leu”, afirmou o comediante. “O que me interessava era provocar essa pergunta: vocês leram a Bíblia? Porque a Bíblia diz muita coisa.”

    Ao longo do espetáculo, o humorista cita capítulos e versículos no palco, reforçando que as histórias narradas não são invenções “Eu faço questão de deixar claro que está na Bíblia. Não sou eu falando isso”, disse ao F5. “A interpretação é minha, mas a história está lá.”

    O texto percorre episódios conhecidos, como Sansão e Dalila, e outros menos lembrados, como Balaão conversando com uma jumenta ou o profeta Eliseu amaldiçoando jovens por chamá-lo de careca.

    Para Porchat, o incômodo surge com trechos do livro sagrado que hoje são usados como regra sem o mesmo rigor aplicado ao restante do texto. “Ou você acredita em tudo que está ali ou entende que são parábolas. Escolher só o que convém é fácil demais”, afirmou.

    Para construir o roteiro, que escreveu sozinho, Porchat afirma que leu o Velho Testamento do início ao fim, em busca de histórias que coubessem no humor ou pudessem ser questionadas. Segundo ele, o processo envolveu procurar episódios pouco comentados, além de reler passagens conhecidas sob outro viés.

    O humorista conta que já tinha lido o Novo Testamento para edições anteriores do especial de Natal. “Eu gosto mais do Velho Testamento. Acho ele mais ágil. Deus mata gente. É um filme de ação”, disse.

    Porchat afirma que o especial não tem como alvo uma minoria religiosa nem a fé em si, mas o uso do texto bíblico como instrumento de poder e exclusão. Segundo ele, a crítica se dirige a instituições e lideranças que mobilizam a Bíblia para ditar regras de comportamento na vida pública.

    “A gente não está sacaneando gente frágil”, disse. “Religião, no Brasil de hoje, é uma das forças mais poderosas que existem.”

    O humorista imagina que a reação ao especial tende a repetir o padrão dos anos anteriores, com elogios e críticas. Para ele, esse embate faz parte do campo da comédia. “Vai ter gente dizendo que é absurdo e gente dizendo que é genial. Isso sempre aconteceu”.

    Ele diz que, apesar de episódios graves como o ataque a bomba à sede do Porta dos Fundos em 2019, não trabalha com medo. “As pessoas são muito mais violentas na rede social do que na vida real. Nunca na minha carreira alguém me xingou na minha cara.”

    Gravado em 2023, o especial ficou pronto dois anos antes de chegar ao público. Segundo Porchat, o adiamento aconteceu devido à transição do Porta dos Fundos após a saída da Paramount. O humorista diz que o material permaneceu intacto desde a gravação. “Ele foi feito e pensado para aquele momento. A gente não cortou nada, não atualizou nada.”

    Para o humorista, a decisão de lançar o projeto no YouTube amplia o alcance e recupera a relação direta do grupo com o público. “É a nossa casa. Todo mundo tem acesso”, disse.

    Ao falar sobre o limite do humor, Porchat, evita rodeios. Para ele, a restrição não está no tema, mas na lei. “O limite é a Constituição brasileira”, afirmou.

    Segundo ele, a responsabilidade aumenta quando o conteúdo circula para além do pacto estabelecido com o público original. “Não é fazer a piada e ir embora”, afirmou. Porchat diz que acompanha a repercussão do que produz e que se sente obrigado a intervir quando percebe que um discurso passa a incentivar ataques ou perseguições.

    “Vivemos em 2025 e precisamos entender que piadas feitas em 1990 já não fazem mais sentido. Existe uma responsabilidade sobre o que se diz”, afirmou.

    Para Porchat, o termômetro não está em agradar ou desagradar, mas em observar quem reage positivamente ao discurso. “Se eu começo a fazer piadas e um público nazista passa a gostar, eu preciso parar e pensar onde errei. Quando é o Silas Malafaia dizendo que não gostou, eu penso: ‘acertei’.”

    “O problema é quando nosso discurso inflama as pessoas erradas a fazerem coisas erradas”, afirmou. “Por isso que é tão forte jogar no YouTube, porque é um produto audiovisual que pode chegar em todo mundo. Então tenho que ter mais responsabilidade ainda.”.

    Após o hiato, o humorista afirma que já tem novas ideias em desenvolvimento para 2026. Algumas estão mais avançadas, outras ainda em fase de argumento, mas todas partem do desejo de não repetir ideias já concretizadas. “Eu não quero fazer sempre o mesmo”, disse. Entre as possibilidades, ele cita a vontade de trabalhar com histórias originais, fora do universo bíblico, e até de ambientar um especial nos dias atuais.

    Além de um novo formato para o especial de Natal, Porchat deve estrear um novo podcast com o Porta dos Fundos em 2026. O grupo também está gravando um especial com a emissora portuguesa RTP, chamado “Porta Pro Milhão”, uma paródia do Quem Quer Ser Um Milionário com comediantes do país.

    Os projetos Não Importa e Que História É Essa, Porchat? também devem ganhar versões no teatro no próximo ano.

    Fabio Porchat transforma Bíblia em stand-up no especial de Natal do Porta dos Fundos

  • Bolsonaro pede autorização para fazer fisioterapia na prisão

    Bolsonaro pede autorização para fazer fisioterapia na prisão

    Ex-presidente está preso em uma sala da Superintendência da Polícia Federal (PF), em Brasília, onde cumpre pena de 27 anos e três meses de prisão

    A defesa de Jair Bolsonaro pediu nesta quarta-feira (17) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorização para que o ex-presidente seja atendido por um fisioterapeuta na prisão.

    Bolsonaro está preso em uma sala da Superintendência da Polícia Federal (PF), em Brasília, onde cumpre pena de 27 anos e três meses de prisão pela condenação na ação penal da trama golpista.

    Segundo os advogados, o médico particular de Bolsonaro recomendou a realização de sessões diárias de fisioterapia respiratória e motora. O objetivo é a manutenção do condicionamento físico e readequação postural.  

    “A defesa indica, para fins de organização administrativa e observância às normas internas da Superintendência da Polícia Federal, que o atendimento fisioterapêutico seja realizado uma vez por dia, em dias úteis, durante o horário padrão de funcionamento da Superintendência, de modo a conferir organização e previsibilidade, bem como a continuidade do tratamento recomendado”, afirmaram os advogados.

    Mais cedo, Bolsonaro passou por uma perícia médica, que foi feita por peritos da PF. O procedimento foi determinado por Moraes, que vai decidir se autoriza Bolsonaro a deixar a prisão para realizar uma cirurgia recomendada pelos médicos particulares.

    Bolsonaro pede autorização para fazer fisioterapia na prisão

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  • Trabalhadores processam Volkswagen por regime análogo à escravidão

    Trabalhadores processam Volkswagen por regime análogo à escravidão

    Ministério diz que fazenda recebeu incentivos fiscais da ditadura; caso chegou a parlamentares e às autoridades competentes pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), que documentou as violações e até hoje acompanha o andamento dos processos judiciais

    Quatro trabalhadores escravizados durante a ditadura civil-militar, nas décadas de 1970 e 1980, em uma propriedade da Volkswagen do Brasil, no Pará, acionaram a Justiça para reivindicar reparação pela condição desumana a que foram submetidos. Cada um pede R$ 1 milhão por danos morais e R$ 1 milhão por danos existenciais, valores definidos com base no porte econômico da marca, pelo tamanho dos prejuízos causados às vítimas e pelo que representam socialmente. 

    Os processos sucedem uma ação civil pública, isto é, coletiva, em que o Ministério Público do Trabalho (MPT) pede R$ 165 milhões por danos morais coletivos, retratação pública e a ativação de ferramentas como um protocolo aplicável a incidentes semelhantes, um canal de denúncias e a realização de ações de fiscalização. Nessa ação pública, a companhia foi condenada em agosto deste ano, mas entrou com recurso.

    O local onde foram submetidos ao regime de trabalho análogo à escravidão foi a Fazenda Vale do Rio Cristalino, em Santana do Araguaia (PA), pertencente à Companhia Vale do Rio Cristalino Agropecuária Comércio e Indústria (CVRC), uma subsidiária da Volkswagen. Conforme destaca o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, “a propriedade em questão, com cerca de 140 mil hectares – quase o tamanho da cidade de São Paulo –, recebeu incentivos fiscais e recursos públicos para a criação de gado à época – tornando-se um dos maiores polos do setor –, acentuando a responsabilidade institucional da empresa.” 

    A pasta enviou representantes ao município paraense de Redenção, em meados de maio deste ano, para participar de uma mobilização organizada por movimentos sociais, sindicatos, universidades e parlamentares.

    O caso chegou a parlamentares e às autoridades competentes pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), que documentou as violações e até hoje acompanha o andamento dos processos judiciais. Como ocorre geralmente, os trabalhadores foram atraídos pela companhia por intermediários, chamados popularmente de “gatos”, que fazem a ponte entre quem escraviza e as vítimas escravizadas, com promessas de trabalho digno. 

    De acordo com a CPT e o Coletivo Veredas, de advocacia popular e defesa dos direitos humanos, a proposta apresentada aos trabalhadores aliciados foi a de receber uma boa remuneração para derrubarem árvores de vegetação nativa, formação de pastagens e serviços de construção civil. A Fazenda Volkswagen, como ficou conhecida, funcionou de 1974 a 1986.

    O advogado José Vargas, do Veredas, assinala que a subjugação protagonizada pela fabricante de automóveis revela “a face empresarial da ditadura” e que a montadora, no processo aberto pelo MPT, buscou convencer a Justiça de que o cerceamento imposto por ela aos trabalhadores era prática corrente naquele período e, portanto, não foi errado nem ilegal. 

    Houve uma tentativa de naturalizar a servidão por dívida”, ressaltou, em entrevista à Agência Brasil.

    “O advogado defende que é um caso que vai além da divida trabalhista, se tratando de uma “dívida histórica.”

    Além de ter “explorado a mão de obra a qualquer custo e ampliado a desigualdade, em vez de reduzi-la”, a Volkswagen, acrescenta Vargas, fermentou na comunidade das vítimas a antipatia dos demais por elas, já que o governo golpista e aliados adotavam a vertente desenvolvimentista e as vítimas passaram a ser vistas como pedras no caminho de quem queria prosperar com a montadora, por denunciar a violação de seus direitos. “É inconteste que a empresa lucrou em cima da exploração”, diz.

    O integrante do Coletivo Veredas frisa, ainda, o que chamou de  “lado mesquinho da montadora”, quando recorre da decisão de milhões de reais do processo do MPT, enquanto seu faturamento é de cifras significativamente maiores, na casa dos bilhões. 

    Esperteza e sorte

    Um dos trabalhadores que ingressaram com a ação, Isaías* foi recrutado para trabalho escravo contemporâneo com quatro amigos, tão jovens quanto ele. Todos eram adolescentes e conheciam seu aliciado e confiavam nele e, por isso, não duvidaram de nada quando o homem os abordou oferecendo uma oportunidade de fazer dinheiro no Pará. 

    Como o “gato”, os garotos moravam no Mato Grosso e largaram os estudos para levar o plano adiante e completá-lo rapidamente, em um mês. Hoje com 60 anos de idade, Isaías fez até a 8ª série do ensino fundamental. 

    Eles acreditavam ter sido “contratados” para trabalhar um lote apenas, mas não viram retorno financeiro conforme o tempo previsto, tampouco no segundo mês, permanecendo lá por cerca três meses, sob coação, instalados em barracas precárias, sem poder fazer a higiene pessoal nem preparar alimentos adequadamente.

    Já começavam devendo, a começar pelo valor gasto com o deslocamento até a fazenda, conta que aumentava à medida que os dias viravam, com alimentos e outros itens que consumiam. Escaparam inventando um prazo para se apresentar para o alistamento militar obrigatório, mesmo sem ter idade para isso, mentira em que os homens que os vigiavam caíram. 

    Uma tática irônica, de provocar temor nos jagunços com um pretexto envolvendo as Forças Armadas, em plena ditadura. “Eles ficaram, acho, com medo [de serem punidos por atrapalhar sua entrada no serviço militar] e aí nos liberaram.”

    Foram autorizados a deixar a fazenda, mas sem um tostão, razão por que tiveram que pegar caronas do Pará ao Mato Grosso, em caminhões. O esquema de solidariedade garantiu a chegada ao estado de origem, e o trecho restante, até a cidade natal, foi feito com passagens cobertas pela CPT. “Eram muitos pistoleiros. Todos armados. Não tinha ninguém sem arma, não”, conta a vítima, esclarecendo o motivo pelo qual nunca cogitaram fugir.

    “Foi muito difícil. Nossa sorte foi que saímos com vida”, resume. 

    Defesa

    Procurada pela reportagem, a Volkswagen do Brasil afirmou “que seguirá em busca de segurança jurídica no Judiciário Brasileiro”.

    “Com um legado de 72 anos, a empresa defende consistentemente os princípios da dignidade humana e cumpre rigorosamente todas as leis e regulamentos trabalhistas aplicáveis. A Volkswagen reafirma seu compromisso inabalável com a responsabilidade social, que está intrinsecamente ligada à sua conduta como pessoa jurídica e empregadora.”

    Trabalho escravo contemporâneo

    A legislação brasileira atual classifica como trabalho análogo à escravidão toda atividade forçada – quando a pessoa é impedida de deixar seu local de trabalho -, desenvolvida sob condições degradantes ou em jornadas exaustivas.

    Também é passível de denúncia qualquer caso em que o funcionário seja vigiado constantemente, de forma ostensiva, pelo patrão.

    De acordo com a Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaete), jornada exaustiva é todo expediente que, por circunstâncias de intensidade, frequência ou desgaste, cause prejuízos à saúde física ou mental do trabalhador, que, vulnerável, tem sua vontade anulada e sua dignidade atingida.

    Já as condições degradantes de trabalho são aquelas em que o desprezo à dignidade da pessoa humana se instaura pela violação de direitos fundamentais do trabalhador, em especial os referentes a higiene, saúde, segurança, moradia, repouso, alimentação ou outros relacionados a direitos da personalidade.

    Outra forma de escravidão contemporânea reconhecida no Brasil é a servidão por dívida, que ocorre quando o funcionário tem seu deslocamento restrito pelo empregador sob alegação de que deve liquidar determinada quantia de dinheiro.

    Como denunciar

    O principal canal para se fazer uma denúncia é o Sistema Ipê. As denúncias podem ser apresentadas de modo anônimo, isto é, sem que o denunciante se identifique, caso prefira.

    *A real identidade do entrevistado foi trocado, a fim de preservá-lo.

    Trabalhadores processam Volkswagen por regime análogo à escravidão

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  • Filho de Rob Reiner deve fazer primeira aparição em tribunal após prisão

    Filho de Rob Reiner deve fazer primeira aparição em tribunal após prisão

    Nick Reiner é acusado formalmente de dois crimes de homicídio qualificado; filho do diretor assassinado está sob observação por risco de suicídio

    SÃO PAULO, SP (UOL/CBS NEWS) – Nick Reiner, filho do diretor Rob Reiner e de Michele Singer Reiner, deve comparecer pela primeira vez a um tribunal de Los Angeles desde que foi preso acusado de matar os próprios pais.

    Reiner é acusado formalmente de dois crimes de homicídio qualificado. As acusações incluem uma alegação especial de que o crime foi cometido com o uso de uma “arma perigosa e mortal”, uma faca, informou o promotor Nathan Hochman em entrevista coletiva.

    Audiência de acusação está marcada para hoje, em Los Angeles. Nick Reiner deve participar da audiência de acusação, onde apresentará sua declaração de culpa ou inocência.

    A audiência estava marcada para ontem, mas foi adiada por uma questão médica. Não está claro se Nick Reiner participará presencialmente da sessão de hoje, mas vários repórteres aguardam sua aparição do lado de fora do tribunal.

    Nick está sob observação por risco de suicídio. Ele está detido sem direito a fiança no complexo penitenciário Twin Towers Correctional Facility, em Los Angeles, nos EUA.

    Se condenado em todas as acusações, Reiner pode pegar prisão perpétua sem condicional ou pena de morte. Os promotores ainda não decidiram se irão pedir a pena de morte no caso.

    Ele contratou Alan Jackson, advogado criminalista conhecido por atuar em casos de grande repercussão. Ex-promotor de Los Angeles, o advogado defendeu Harvey Weinstein em acusações de estupro, o músico Phil Spector e o ator Kevin Spacey. Mais recentemente, defendeu Karen Read, uma mulher que foi acusada de matar o namorado e foi absolvida.

    Jackson não revelou por quem foi contratado, por quem está sendo pago e como chegou ao caso. “Não posso comentar”, disse à imprensa ao chegar ontem no tribunal.

    Filho de Rob Reiner deve fazer primeira aparição em tribunal após prisão

  • Malafaia diz que Flávio Bolsonaro não ganha eleição e não soube articular

    Malafaia diz que Flávio Bolsonaro não ganha eleição e não soube articular

    Pastor diz que senador deveria desistir da corrida presidencial e questiona forma como foi feita indicação; ele diz ainda que, diferentemente de Tarcísio, filho do ex-presidente não circula no centro, o que seria essencial para vitória

    SÃO PAULO, SP (CBS NEWS) – Para Silas Malafaia, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) não tem estofo eleitoral e deveria desistir de concorrer à Presidência em 2026.

    Aliado evangélico mais vocal a favor de Jair Bolsonaro (PL), o pastor diz que a movimentação de Flávio ignora uma equação básica do sistema político brasileiro: a necessidade de alianças que ultrapassem o campo ideológico. E o primogênito de Jair, segundo ele, não é como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que tem trânsito com o centro.

    Malafaia defendeu ao portal Metrópoles uma chapa encabeçada pelo governador de São Paulo com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como vice.

    Em conversa com a reportagem, o líder religioso mirou menos o sobrenome Bolsonaro do que a estratégia adotada no anúncio da candidatura -que teve aval do ex-presidente encarcerado, segundo seu filho.

    “Todo radicalismo, seja de direita ou de esquerda, age por paixão, igual torcedor de time de futebol. Não vê um dedo na frente do nariz. E política não se faz com paixão, se faz com estratégia. Nem a direita nem a esquerda vence a eleição sem o centro”, afirmou Malafaia.

    O pastor cita o governador de São Paulo como exemplo de figura que circula fora da bolha mais radical. “Não adianta atacar Tarcísio, ele é do centro. Não adianta. Bolsonaro só governou porque governou com o centro.”

    Malafaia afirma que Bolsonaro contou com quadros desse campo político, ainda que ministérios estratégicos tenham sido poupados. “Teve ministro do centro. Ciro Nogueira, Fábio Faria.” Ambos do PP.

    Na avaliação de Malafaia, o obstáculo à entrada de Flávio na disputa não é apenas político, mas aritmético. Ele menciona pesquisa Genial/Quaest que aponta 62% de rejeição a uma chapa liderada pelo senador.

    Com esse número, diz, “não ganha a eleição, não adianta porque tem que vir o centro junto”. O pastor trata de separar o diagnóstico eleitoral de qualquer embate pessoal. Diz gostar de Flávio e ter votado nele para senador, gesto que repetiria. Para presidente “não adianta”, contudo.

    “Eu disse para ele: não sou covarde, você não tem musculatura.”

    Malafaia também questiona o processo que levou à candidatura, relatando um ambiente de improviso e fragilidade emocional em torno do ex-presidente. “E a maneira que foi feito, nem o partido dele foi consultado em nada. Isso é um absurdo, Bolsonaro debilitado emocionalmente, [há] poucos dias na cadeia.”

    Ele levanta dúvidas sobre a conversa entre pai e filho que teria resultado na decisão. “Vai lá o filho, o que é que ele falou? O que é que ele falou para Bolsonaro para arrancar isso de Bolsonaro?”

    O anúncio, segundo Malafaia, teria sido feito sem qualquer articulação com o partido ou aliados. “Ele chega aqui, não tem nem tática política para chamar o PL, para chamar os partidos dizendo ‘meu pai falou assim por causa…’ Não! Manda uma mensagem por Instagram, sei lá por quê, por Twitter, por ‘zap’. ‘Ó, meu pai disse que eu sou candidato.’”

    Para o pastor, a articulação mambembe pode beneficiar a esquerda. “Isso não é brincadeira, gente! Estão querendo entregar a eleição para Lula, só isso.”

    Malafaia diz ter autoridade para criticar o movimento, ancorando-se em sua trajetória de defesa do ex-presidente. “Com todo o respeito, eu defendo o Bolsonaro como poucos. Está aí a perseguição de Alexandre de Moraes contra mim, para tentar me calar exatamente pelas defesas e pelos meus posicionamentos a favor de Bolsonaro e contra ele. Então eu tenho moral para falar. Respeitem. Eu não cheguei agora, não sou um franco-atirador, tá?”

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  • Filipe Luís evita cravar renovação e fala em luto após derrota do Flamengo

    Filipe Luís evita cravar renovação e fala em luto após derrota do Flamengo

    DOHA, QATAR (UOL/FOLHAPRESS) – Alegando “luto” pela derrota do Flamengo na Copa Intercontinental, o técnico Filipe Luís evitou cravar a renovação com o clube -apesar de dizer que quer ficar.

    “Sobre o futuro, estou ainda com o luto do jogo. Não depende só de mim. Espero que nos próximos dias se arrume”, disse o treinador, na coletiva após a derrota nos pênaltis diante do PSG em Doha, no Qatar.

    Uma das variáveis para Filipe Luís é o sonho admitido por ele de voltar a trabalhar na Europa. Mas, ao mesmo tempo, ele reconhece que o Flamengo o deixa feliz.

    “Meu contrato acaba agora aqui. Estamos em conversas para renovar. Todos sabem meu sonho de um dia voltar à Europa. Estou me preparando para isso. Mas neste momento, minha realidade é o Flamengo. Eles dão a vida por mim, pelo meu clube. Sinto que sou eu em campo quando vejo a minha equipe. Vamos ter as conversas com o presidente, com o Boto e vamos ver o que vai acontecer. No momento, não tenho mais a dizer”, acrescentou o treinador.

    Eu amo meu clube, amo estar aqui, espero que possa ficar aqui por muitos anos pela frente. Filipe Luís

    Indagado sobre a análise da temporada na qual venceu quatro títulos -Libertadores, Brasileirão, Supercopa e Carioca-, Filipe Luís deu nota 10.

    PSG entrou na relação nesta quarta-feira, com vitória sobre o Flamengo na final da Copa Intercontinental; último brasileiro a vencer foi o Corinthians, em 2012, batendo o Chelsea da Inglaterra

    Folhapress | 19:12 – 17/12/2025

    O jogo desta quarta-feira (17) tem um valor sentimental. Mas é um jogo. Para mim, a temporada foi impecável. Nota 10.

    A projeção do presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, é resolver a renovação do técnico até o Natal.

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